quinta-feira, 20 de abril de 2017

40, JÁ?





Espero que daqui até o final do grupo de amanhã, ninguém no CAPS descubra ou lembre que o meu aniversário é hoje. Não há como evitar as inevitáveis felicitações pelas redes sociais. Estou ouvindo Strokes. Quase sempre bom. Está sendo bom agora. O teclado me sugeriu "amor" quando digitei o "a" de "agora". Se fosse furar o bolo e fazer um desejo, pediria por paixão-amor recíproca. A juventude é uma coisa bela mesmo. Uma garota que certamente se tornará uma mulher feia dentro de uma ou duas décadas tem seu encanto graças à juventude. A velhice só é caridosa com os feios, pois velhos são, via de regra, uniformemente feios, igualmente enrugados. Uma companheira de grupo que realmente lê meu blog ou viu pelo Facebook descobriu que hoje é o meu aniversário. Pedi silêncio. Espero que ela mantenha segredo. O iPod, ou seu fone, está uma porcaria. Vive falhando contato que leva o som ao ouvido esquerdo. O mínimo movimento é o suficiente. Espero muito que a usuária cale sobre o assunto. Se forem cantar parabéns, me levanto e vou embora. Duas psicólogas vieram me dar os parabéns agora, estou muito temeroso de me ver obrigado a tomar medida tão antissocial. Mas é a forma mais ilustrativa de mostrar que odeio o ritual hipócrita do "Parabéns Para Você". Ganhei presentes das minhas tias paternas, sei que são roupas, mas não tive tempo de abrir, pois foi no momento em que fui pegar o celular em casa e voltar voando para o CAPS. Não esperava que tivessem tamanho empenho para comigo. Fiquei sinceramente grato pela iniciativa. Gostaria muito mais que juntassem o valor das roupas e me dessem o novo Zelda para Wii U. Mas não comuniquei desse desejo a ninguém, então não teriam como saber. Talvez vá hoje na Cultura com mamãe e procure por lá, muito embora ache que só vá encontrar a versão para Switch, como tenho visto em todas as lojas da Internet. Não custa nada dar uma olhada. Espero que vamos. Adoro ir na Cultura e faz tempo que não faço isso. É a loja que desperta mais o meu desejo consumista. CDs, DVDs, HQs, jogos e bonecos, tudo o que mais adoro comprar. Nossa como queria que tivesse o Zelda para o meu console lá. Se formos realmente. Não vou criar grandes expectativas, visto que lido com um fator imprevisível, minha mãe. Ela pode estar indisposta por causa de algum remédio ou por causa da PVC. Vou fumar antes do grupo.

15h38. Já estou em casa, a minha amiga do CAPS nada contou, até brincou comigo, dizendo que hoje era o aniversário de Roberto Carlos, que de fato é, só para me dar um gelo na espinha. Ela foi bem legal comigo. As psicólogas também, embora soubessem, só vieram me felicitar no final do grupo. E a psicóloga me desejou coisas muito massas, muito pertinentes, inclusive que pintem gatinhas. Tomara! Amanhã, espero que, mesmo com a notícia já tão difundida, não ensaiem nenhuns parabéns, pois a minha reação continuará sendo a mesma. Darei meia volta e sairei do grupo, aliás, do CAPS, e irei para casa. Macaquice se lida com macaquice. Infelizmente, sou irredutível em relação a isso. Como era de se esperar, o inesperado aconteceu e minha mãe dorme. Estou ouvindo o que suponho ser o disco mais recente do Belle & Sebastian. Tem uma música que, pasme, lembra Pet Shop Boys. Espero que minha mãe acorde e ainda vá à Cultura comigo. Senão ficarei frustrado. Não muito, mas um bocadinho. É o meu aniversário e desse gesto, alardeado ontem, eu faço questão. Não sei, talvez fosse uma boa ideia levar vovó. Não adianta fazer planos, pode ser que minha mãe nem vá. Queria ir logo para não pegar a hora do rush. 15h56. Tem uma música que é um dueto entre o cantor e a cantora do Belle que parece música brega com toques mexicanos. “The Everlasting Muse” é o nome da canção. Eu tenho uma ou duas everlasting muses, mas não tratarei delas aqui. Há três se contarmos Björk. Björk é minha paixão platônica mais antiga, eu acho. Sim, desde a época do SugarCubes. Desde 1989, eu acho. Sou péssimo com datas. O Belle & Sebastian realmente beberam da fonte do Pet Shop Boys. Tem outra com uma batidinha bem Pet Shop Boys. Os vocais femininos nesse disco são péssimos, parece música brega, um vocal frágil, meio sussurrado. Gosto mais quando eles se atêm a instrumentos não eletrônicos. Caramba. 16h15. Que horas mamãe vai acordar? Estou vendo que o nosso programa não vai rolar. Que saco. Vamos ver, né? Se ela tiver hidroginástica é que ferrou mesmo. Não compraria nunca esse disco do Belle & Sebastian. O vocal feminino é horrível para o meu gosto. Vamos, mãe, acorde, please. Hoje só estou escrevendo sobre futilidades, me perdoem, mas é meu aniversário e vou escrever o que eu quiser, que é o que faço todos os dias mesmo. Só que hoje estou especialmente fútil. Abri os presentes das minhas tias, foram três camisas de cores diferentes, o resto tudo igual, mas gostei das cores e, principalmente, da lembrança e esforço por causa da lembrança.

16h28. Coloquei outro disco, um pouco mais antigo do Belle, que também não conheço. Mas já começou com a mulher cantando. A música é bonitinha, não gosto só da voz da mulher o que estraga metade da música para mim. Pobre da cantora, nunca foi tão esculachada na vida! Hahahahaha. Não gosto de falar mal das pessoas. Mas não sou obrigado a apreciar um vocal que acho fraco. É o estilo dela, deve ter quem goste. Não faço parte desse grupo. 16h37. Mamãe acordou por causa de um telefonema. Disse que tomou “o” remédio, justamente o que faz ela passar mal. Que ozzy. Vai acabar não indo, já estou vendo.

16h42. Disse que ia só falar com um aluno e que iria. E que queria ir logo para evitar o rush. Vamos ver. Gostei mais desse disco do Belle so far.

16h56. Estou ficando com sono. Não é possível que mamãe ainda esteja ao telefone com o aluno.

17h05. Parece que minha mãe está aquecendo as turbinas para ir. Já pediu para eu ir pegar o computador no carro. Tomara que não desista de última hora.

22h11. Voltei muito tarde para casa para poder falar com Maria de Buria pelo Skype. Farei isso amanhã. Sem falta. Não encontrei nenhum dos itens que fui procurar na Cultura. Pelo menos, fomos jantar num ótimo rodízio de comida japonesa e chinesa aqui perto de casa. Estou com a barriga estufada e pesando vergonhosos 96,5 kg. Falei com a colega do CAPS pelo Facebook. Ela me garantiu que o meu “affair” – palavra que ela mesmo utilizou – do CAPS também lê o Jornal do Profeta. Fico imaginando se ela sabe quem é a pessoa ou se há outra estagiária do CAPS lendo os meus escritos. Se for X mesmo, é uma boa razão para ter se distanciado de mim. Se for Y, que eu acho mais provável, acho que ela seria uma alternativa à altura de X. Em alguns aspectos acho que me identifico e tenho mais intimidade com Y. Mas se minha amiga de Rizoma (gostou?) estiver certa em relação a X, então está explicado o seu comportamento mais arredio em relação a mim.

23h22. Estava respondendo às felicitações de aniversário do meu Facebook. É interessante como pessoas as mais inesperadas arrumaram um tempinho para mandar felicitações para mim. Sinto-me bastante lisonjeado, pois, por algum motivo acho mais honesto que o odioso “Parabéns Para Você”. A família manda toda pelo WhatsApp. Amanhã mando um obrigado geral para todos, dos dois braços da família. É fácil, rápido e cômodo. Não sei porque, tirando as três tias que ligaram para mim, acho mais falso esses de WhatsApp. Talvez porque não goste do aplicativo e de ficar vendo coisas nele. Talvez porque eu mesmo encare como um dever mandar parabéns a familiares com quem mantenho pouco ou superficial contato. Não é uma atitude de sincero e especial apreço, mas apenas um dever social. Como ir numa missa de sétimo dia, algo em que não creio, mas que a pressão (ou opressão) social me obriga a presenciar. Talvez o problema esteja que projeto a minha antipatia no outro. Pode ser. Fato é que não gosto nem de cantar para os outros e muitíssimo menos que cantem para mim. Por isso já aviso de antemão que não gosto disso, que posso tomar uma atitude bastante antissocial a respeito de tal feito. Só não há como escapar quando é a família, que, graças, não teve oportunidade de fazê-lo este ano por uma conjunção astral inesperada de última hora. Outra coisa da qual tenho pavor, que já beirou ou cruzou a linha da fobia no passado, mas que aos poucos venho superando paulatinamente, são bexigas. Não sei quem foi o “gênio” que inventou isso, mas bexigas para mim são explosões em potencial, latentes ali, prontas a estourar a qualquer momento, a qualquer mínimo toque ou mesmo do nada. Odeio barulhos altos, que para mim equivalem a sustos e bexigas estão enquadradas nessa categoria nefasta. Mudando de assunto. Gostaria que minha amiga de Rizoma escrevesse um blog, mesmo que sob um pseudônimo. Acho que ela conseguiria desabafar e se ouvir como faço aqui. Para mim, que não tenho muito com quem conversar durante a semana, afora o CAPS, escrever aqui é o melhor diálogo que possuo. É como ouço a minha própria voz. E às vezes chego a descobertas super-relevantes sobre mim. Não sei se certas, mas que me trazem alívio e às vezes desconforto. O fato de odiar que cantem parabéns para mim é justamente porque o faço sem sinceridade e amor necessários para com o próximo. Somos mesmo espelhos. Ou pelo menos eu sou um espelho dos meus sentimentos mais íntimos. Eles se manifestam de forma disfarçada, mas dizem muito sobre mim. É muito curioso isso e preciso prestar mais atenção a esses comportamentos tão reveladores de mim. O fato de eu estar menos comunicativo com as pessoas nas ruas e lojas é um reflexo da minha introspecção e de uma carência menor de contato humano devido a este blog. Por isso estou mais frio. Porque sou deveras quente aqui. Porque não sinto mais a necessidade de me repartir tanto com a pessoas porque me reparto quase por inteiro aqui. Mais do que faria com os meus amigos. O mesmo tanto que me abro nos grupos do CAPS. Embora lá eu vá ainda um pouco mais adiante e aborde assuntos que concernem ao “Desabafos do Vate”, tamanha é a confiança e abertura e acolhimento que sinto lá. Cheguei a falar de Aurora em particular com uma psicóloga, quando Aurora era um assunto que mexia muito comigo. Realmente impregnava meus dias e noites o pensamento nela. Hoje, estou mais relaxado em relação a isso. Beeem mais relaxado. De fato, o que os olhos não veem o coração não sente. Mas acho que mesmo se a visse, não seria mais a mesma coisa, pois a coisa já esfriou para ela. A coisa é só minha agora e guardo numa gaveta mui preciosa e mui bem escondida dentro da minha alma. Nem cogitei em abrir ao mencioná-la, pois tenho medo de trazer tudo à tona de novo. Mas Aurora não é assunto para cá. 23h58. Vou escrever até, no máximo até as 0h30. Ou melhor, vou reler e postar.

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