terça-feira, 2 de agosto de 2016

MUITO DO POUCO QUE ME CERCA

Casa dos três velhos



Ouvindo, Blackstar de David Bowie. Venho ouvindo com frequência agora que me acostumei com o disco. Também tenho escutado bastante New Adventures in Hi Fi do REM, aquele disco que meu primo me deu anos atrás e ao qual não havia ainda dado uma chance. Maria Rita agora me faz lembrar a época em que estava jogando FEZ (jogo nota 10 que aconselho a qualquer gamer jogar, desde que com acesso à internet, pois certas coisas só com a ajudinha de um bom walkthrough). E Mallu. Ah, Mallu é para quando eu quero deixar a vida mais leve e doce. É um disco tão inofensivo que chega a ser indefeso. É tão carinhoso, posto que devotamente apaixonado, e um tanto hesitante, inseguro, como uma garota de 18, 19 anos que ama profundamente um cara barbudo de trinta e tantos anos.

Faz tempo que não venho aqui ao território das palavras livres, leves e soltas, das palavras jogadas ao balanço do mar de pensamentos que as carrega de mim para o papel digital. Ainda estou me sentindo desapontado comigo mesmo por ter perdido a oportunidade de conversar coma menina solitária do Forró da Casa Astral. Quando me decidi ir ter com ela, ela não estava mais lá. E foi uma garota que sinceramente me agradou e que me pareceu simpática. Por mais que parecesse chateada com algo. Não é como a minha outra musinha do forró, que sempre está com cara de poucos amigos ou de estar acima da humanidade. Não sei porque, nem como se consegue, alguém se dar tanta importância e se achar tão especial. Gostaria de saber, mas não de praticar. Quem sabe, sabendo isso, eu não saberia agir normalmente e não como um sub-humano? Meu psicólogo disse que minha casa havia se tornado uma casa de velhos e que eu deveria dar mais atenção à minha mãe. O chato foi que ele me incluiu dentre os velhos da casa. E não me sinto velho por dentro. Embora a idade já pese um pouco por fora. Talvez por dentro também. Não aguentei a farra dos meninos na sexta ou no sábado, nem lembro. Fui embora bem mais cedo que eles. Por volta das duas da manhã. Eles ficaram até umas quatro. Num lugar barulhento, tocando música que não gosto, com gelo pago, onde não conseguia ouvir as conversas direito. Ou seja um lugar inóspito para a minha velha alma. Muito melhor seria a máquina de chope ter funcionado e termos ficado na casa dos meninos, sentados, jogando conversa fora. Mas o destino e o tanque de gás não quiseram assim. É a vida. A vida. Que coisa mais estranha é a vida. Nos apresenta impossíveis. Nos faz desejar impossíveis. Como não morrer ou não envelhecer. Eu acho que minha vida está perfeita do jeito que está agora. Pena apenas não haver gatinha para me aconchegar e aninhar. Mas também não sei se estaria disposto a transformar minha rotina para fazê-la caber na minha vida. Dependendo de quem fosse, faria sim. Daria o meu mundo e minhas bonecas. Mas a vida não está querendo assim. Nem vai querer. É bom que continuo com as minhas bonecas. E todo o resto da minha vida que está estruturado de um jeito muito cômodo para mim. Se pudesse, ainda desistiria do CAPS e talvez até do psicólogo. Mas sei que não posso. Senão viro um vampiro. Troco a noite pelo dia e não me sociabilizo mais com ninguém durante a semana. E não acho que consigo achar tanto conteúdo para o meu outro blog para preencher minha vida só disso. Se bem que consegui um novo estabilizador e meu videogame está operacional mais uma vez. Então, estivesse eu com disposição para jogar, que não estou com a mínima no momento, eu teria centenas e centenas de horas de jogo para me distrair, ou seja, me tornaria praticamente um eremita urbano. O que praticamente já sou, não fora o CAPS e as saídas de final de semana. O psicólogo não deixa de ser uma forma de sociabilização. Mas não gostei da idéia da “casa de velhos”, por mais que ela se me afigure de certa forma verdadeira. O nome “casa de velhos”, me soa mal aos ouvidos, me lembra asilo para idosos debilitados. Será que tão em breve serei isso? Eu que nem quarenta fiz ainda (embora não falte muito). Acho um tanto forçada essa nomenclatura para o meu lar ainda mais estando eu incluso neste lar, mas sinto uma certa validade nesta afirmação daqui a dez anos. Não por mim, ainda, mas por mamãe e meu padrasto. “Casa de velhos”, vocês gostariam que dessem essa nomenclatura ao lar de vocês? Mas o meu lar é deveras sui generis, assim como a minha situação pessoal, assim como a minha própria pessoa. Mas me recuso a ser considerado ou me sentir, aos 39 anos, um velho. Tudo bem que tenho a alma empoeirada de solidão. Tudo bem que carrego nela amores que mais se parecem fantasmas de tão etéreos, mas não sou velho. Sou apenas alienado. Da maioria das coisas do cotidiano de uma pessoa dita normal. Não sou alienado sobre bonecos ou games (até que de games estou um pouco alienado, pois decidi ficar na geração passada, por ter tantos jogos para zerar), mas não me alieno da vida, a vivo com a intensidade que me é particular e peculiar, como qualquer outro ser humano. Com a grande benesse de ter uma pensão que me garante quase que certamente que não descerei ao inferno da depressão profunda, da angústia sem tamanho e do pânico imensurável nunca mais. Vivo um paraíso em terra, frente ao tanto que já sofri. Então casa de velhos ou não casa de velhos, me sinto melhor agora do que não me sentia há anos. Não fôra a falta da costela para me esquentar ou para eu esquentá-la, tudo estaria perfeito. Tirando que não contei a mamãe que resolvi me dar três camisas de presente: uma da Majora’s Mask (quem é gamer sabe o que é) e duas dos Strokes. As dos Strokes estavam com 25% de desconto, não consegui resistir. Há mais de ano quero uma camisa dos Strokes, cheguei a encomendar uma, a camisa dos Strokes dos meus sonhos, que nunca chegou, deu back-ordered, que eu nem sei o que é. Só sei que nunca me cobraram nada e nunca chegou nada. Então comprei essas duas agora. Como é roupa, mamãe vai chiar menos... eu espero. Não é boneco, nem game, então tá “quase” limpeza.

Não sei mais o que escrever por ora, está no lusco-fusco do final do dia, já não consigo ver as letras direito. Vou acender a luz. São 17h37. O disco de Bowie, que também é curto, há muito já acabou. Vou encher também meu copo de coca que já secou faz tempo. E vou voltar ao mundo dos bonecos. Se der na telha, volto a despejar palavras aqui. “Palavra minha, criatura, palavra, que me conduz...”

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23h16. Acabei de brincar de boneco por, por enquanto. Foi divertido. É uma coisa que me absorve porque gosto muito. Estou com uma vontadezinha de jogar Diablo 3, porém não posso dormir muitíssimo tarde porque amanhã vou ao manicômio participar de uma dinâmica com os pacientes da casa e o meu psicólogo, que agora faz grupos terapêuticos por lá. Nem sei o que me espera, só sei que me espera acordar cedo que odeio. É uma das coisas que mais odeio na vida. Mas torço para que um dia isso mude, sabia? Gostaria de gostar de acordar cedo. Mas é incompatível com o meu amor pela solidão da noite. Quando me sinto meio que dono do mundo adormecido. Sempre fui notívago desde que me entendo por gente. Sempre tive extrema dificuldade em acordar cedo para ir para o colégio. Sempre fui coruja. Não sei mais o que dizer. Estou ouvindo Mallu agora. Já é a terceira ou quarta vez que boto o disco para tocar. Logo, logo vai ser a quinta, pois a última música, que está tocando agora não vai durar até eu terminar essa frase. Dito e feito. Hora de recolocar minha pilulazinha musical de candura para ouvir novamente. Por falar nisso, não gostei nem um pouco do clipe de “Velha e Louca”, preferia nunca tê-lo visto, aliás, nem suportei assistir todo. Muito mais interessante foi vê-la executando algumas das canções do disco e respondendo perguntas no programa de China na MTV. Adorei. Mas será que é de Mallu que quero falar ou da expectativa de entrar no manicômio sabendo que não vou ficar internado lá? O que será que vou sentir? Como serei recebido? Dúvidas, dúvidas. Mas dúvidas que não me acanham ou amedrontam, já que eu sei que não vou ficar lá com eles. Eles que devem ser vários que já cruzei pelas internações da vida. É uma pena que a menina que eu mais queria encontrar teve alta. Uma convergência de fatores impediu o encontro. Talvez o destino não queira que nos reencontremos. A mãe dela certamente não quer. Tanto que me ameaçou caso voltasse a contactar a filha dela pelo Facebook. Coisas da vida. É uma família bem mais adoecida que a minha. Tenho pena da garota, que pelo menos via em mim um confidente e ombro amigo. Alguém que compreendia sua condição e as vicissitudes decorrentes dela, sem a repreender ou com moralismos. É triste, sinto saudade dos nossos papos. É a vida que muitas vezes corre por regatos que a gente não deseja. A vida é assim, para a gente valorizar o que tem quando perde. Se bem que eu valorizava desde antes da ameaçadora mensagem que surgiu no meu Facebook vetando nossas relações cibernéticas. E pior que não é a primeira vez que acontece. Acho que atraio essas coisas. Fui banido dos dois maiores blogs de bonecos e foi uma luta para ser aceito de novo. E estou preparando mais uma bomba que talvez me leve ao banimento novamente. Acho que não ao banimento, embora a hipótese não esteja descartada, mas ao veto das minhas polêmicas publicações. Polêmicas para quem é muito inocente nos grupos, pois eu mesmo não precisei de muito tempo para perceber que rola um mercado negro de figuras muito bem estruturado e lucrativo. E vou abordar diretamente esse tema. Que é velado, embora a divulgação dos produtos se dê nos próprios grupos apenas as negociações sejam feitas via mensagem privada no Facebook. É um negócio relativamente sigiloso, ma non tropo. Eu apenas exporei o que a maioria já sabe. Talvez eu surpreenda um ou outro e revele um mundo novo para alguns colecionadores, mas acho que a imensa maioria já sabe do movimento. De qualquer forma o meu blog de bonecos de nada interessa aqui. E em nenhum lugar senão nos grupos especializados do Facebook. O disco de Mallu já vai acabar de novo. Queria que meu padrasto já tivesse ido dormir para eu poder fumar o meu cigarro de verdade antes de dormir. Se fumar agora, certamente ele vai sentir o cheiro no corredor, devido à geografia da minha casa. Que saco. Já-já dou uma bizoiada para ver se ele já se retirou ao recinto conjugal. E aproveito para encher meu copo de coca-cola. O disco de Mallu acabou. Acho que vou dar essa bizoiada agora.

0h02. Ele já foi dormir. Vou aproveitar que a minha janela ainda está aberta e não liguei o ar para fumar e torcer para o cheirão sair. Porque minha mãe pega quando eu fumo. É muito ozzy. O cara reduz para um cigarro por dia e ainda ouve esporro. Tenha dó. Tem dias que não fumo nenhum. Até porque não tenho. Bom. Vou lá fumar. Quando voltar, sai Mallu e entra REM de novo.

0h13. Já fumei, já coloquei REM e já estou aqui de volta. Estou puto por que tecla de Shift do meu computador já não está respondendo bem. É uma das teclas principais de qualquer computador (maiúsculas, anyone?) e já está dando pau. Devo confessar que não sou dos mais delicados com as teclas, gosto de teclar com certa violência, acho que resquícios do uso de teclados de desktop antigos com suas teclas altas e resistentes. Estou pensando, mas este pensamento se tornou mais distante agora, em ligar meu computador à TV para usá-la de monitor. O cabo HDMI eu já tenho, faltam o teclado e mouse wireless e principalmente um apoio para tudo isso. Talvez essa migração tecnológica se dê quando minha mãe resolver fazer a reforma do meu quarto, quando poderei enfim exibir minhas bonecas e bonecos para poder contemplá-los em todo o seu esplendor. Ter meu sonho finalmente contemplado. Mas acho que isso ainda demora alguns anos. Espero que menos de cinco. Mais do que isso fica meio chato. Meio intranquilo e desfavorável. Uma espera muito longa. Espero que a suposta arquiteta(o) que desenhará o meu quarto arrume lugar para todos os meus bonecos. Amealhei muitos ao longo dos últimos 10-15 anos. Muitos me desfiz para comprar novos e me arrependi. Outros, não. Espero que não me arrependa do custom que comprei com a venda de bonecos, ele me alisou completamente. E nem sei se vai ficar pronto mesmo. Espero que sim, que galera não dê calote. Pois nessa área de customs há muitos caloteiros e este boneco que comprei é 100% made in Brasil, o que foi decisivo na hora de definir a compra. Já paguei o boneco, só falta o frete, que vai ser caro porque, segundo os caras o boneco vai ser sólido e deve pesar uns 10-12 quilos. Sólido que eu digo é que não vai ter partes ocas, vai ser maciço. O que é uma coisa que nunca vi ninguém fazer e que pode muito bem ser uma enrolada. Só sei que só vou pagar o frete depois que me mostrarem uma cópia da nota do frete com o meu tracking number. Se eu fui o único cliente fiz um voto de confiança e já paguei o boneco inteiro, sem nem o protótipo ficar pronto, eles vão ter que fazer um voto de confiança em mim e confiar que eu vou pagar o frete depois do envio. Minha grana tá reservada para isso. E para os outros pre-orders que vão chegar lá na casa do meu irmão nos EUA. Tive que vender bonecos valiosos para conseguir estes. Este é o lado bom de colecionar bonecos, eles se valorizam muito. Mas estes que comprei não vou querer vender de jeito nenhum. Assim espero.

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Recife, 2 de agosto de 2016.


Só mais um pouquinho sobre bonecos. Ontem eu intermediei uma possível parceria entre dois caras que, se der certo, vai causar o maior frisson no mundo dos bonecos. Eu nem acredito que participei desse momento que pode ser histórico. Intermediei = passei o e-mail de um para o outro que me pediu. Mas já me senti “o phoda”. Hahahahaha. Só porque repassei um e-mail. Mas a vida é feita dessas pequenas conquistas. A minha pelo menos é. O resto da minha semana está repleta de compromissos chatos de ordem médica e psicológica. Que saco. E eu ainda estou com um sono arretado aqui e percebendo que estou me tornando disléxico, pelo menos em relação à digitação. Talvez seja o sono. Vou tentar dormir um pouco. 16h33. Vou publicar logo isso que já está com quatro páginas de Word. E eu nem em apercebi.

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