segunda-feira, 16 de abril de 2018

SUPERPRODUÇÃO




Tão mais profundamente eu mergulho na realidade quanto mais eu interajo com ela, minha mãe quer que eu mande um WhatsApp pra titia dizendo para avisar que quando a neta estiver na casa dela, mamãe quer ir visitar. Vou fazer isso, que é interagir profundamente com a realidade, eu vou transformar/alterar a vida/destino de duas ou mais pessoas com uma simples frase. Um momento. 23h36.

Algo mais decorreu dessa interação com a realidade.

[23:43, 14/4/2018] Tia Lúcia: E aí ? Está tudo bem contigo?
[23:43, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: Mostro, tia. Love u.
[23:43, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: Agora está.
[23:44, 14/4/2018] Tia Lúcia: Apareça depois. Estás sumido!
[23:44, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: Mas se quer saber, eu recaí e passei três semanas internado, não posso esconder isso de você, tia-mãe. :(
[23:45, 14/4/2018] Tia Lúcia: Sério? Mas agora está tudo bem?
[23:45, 14/4/2018] Tia Lúcia: E a terapia? Abandonou de vez?
[23:47, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: Seria injusto. Sim, agora está tudo bem, acabei de encontrar Mateus na Casa Astral. Tenho ido à terapia desde que saí da internação e ela foi me visitar lá um dia.
[23:48, 14/4/2018] Tia Lúcia: Que bom! Se cuide meu filho. Torço para que você fique bem! 😘😘😘
[23:48, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: E a recaída foi uma experiência ruim, o que é ótimo. :)
[23:49, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: Estou velho para essas coisas foi a minha percepção. Foi desconfortável, incômodo, humilhante, agir quase como um gatuno. N
[23:49, 14/4/2018] Tia Lúcia: Cuide-se e não perca de vista a experiência negativa, para te fortalecer.
[23:50, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: Não gostei, fiquei num lugar desconfortável, porém seguro, e senti meu corpo reclamar daquilo. O efeito também não foi essas coisas, foi em uma palavra ruim passar por aquilo.
[23:51, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: Não quero mais passar por isso. Não vale a pena. Já valeu muito a pena, hoje não mais.
[23:51, 14/4/2018] Tia Lúcia: Você tem outras escolhas, tem suporte familiar, enfim , o projeto do seu livro, seus escritos, seus bonecos.
[23:53, 14/4/2018] Tia Lúcia: Apareça, qdo puder... Beijo grande!😘😘😘😍😍
[23:53, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: Exato. E tive a possibilidade de experimentar isso por algumas horas antes de ser internado e pensei, como fui burro de trocar isso que eu amo por aquilo, achei a coisa mais idiota do mundo. Depois se acordaram e me trancafiaram no Manicômio por três semanas, eu acho. Com uma saída.
[23:54, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: Beijo grande. Tenho muito a escrever agora!
[23:54, 14/4/2018] Tia Lúcia: Fica com Deus! Se cuide!😘😘😘

23h40. Eu voltei a pensar no mundo como uma superprodução hoje. É um pensamento que deixa a existência muito mais interessante aos meus olhos. Antes disso pasmei em como seres humanos podem gostar da aglomeração de uma multidão comprimida e se comprimindo, com inevitável contado físico com o outro, o calor, o aperto. Quando meus companheiros de Casa Astral adentraram a multidão, local onde não queria me enfiar pelos motivos supracitados, aproveitei a estiagem e me pus a caminho de casa, foi quando me veio de novo a sensação de encantamento de estar na maior superprodução do mundo, o mundo em si. E comecei a reparar que o experimentava com todos os sentidos, sentia a brisa noturna muito leve nos meus braços, aí me deparei com uma grande Subway e com aquela grande avenida ao seu lado, a Dezessete de Agosto. Achei uma visão fantástica e rica. Percebi que apertar a mão com a mão certa é um gesto mais nobre e que fala da honra e da educação do homem. E já apertei tantas vezes com a mão oposta, como me envergonho disso, dessa minha percepção que me faltava e muitas vezes ao longo dos anos provoquei uma sensação de desrespeito à cortesia de quem me estendia a mão num aperto. Bem, o que está feito está feito e sempre é tempo de mudar para melhor. Segui andando. Senti uma enorme sensação de poder quando apertei o botão do sinal de pedestres, embora ache que aquilo não sirva para nada, e ao acender o homenzinho verde e os sinais da Dezessete de Agosto e da rua da Praça ficarem vermelhos, o fluxo de carros foi bloqueado, represado por causa de um condicionamento basicamente animal que os seres humanos dentro dos veículos e o pedestre entendem que quando a luz ficar vermelha, não se avança, por uma convenção, um acordo social, derivado da invenção/ideia de alguém e amplamente difundida no mundo. Se houvesse patente para isso o, cara deveria ter ficado muito rico (e depois falo de impostos, quando a ficção entrar). Mas me senti poderoso vendo os carros, essas modernas carruagens de metal, plástico vidro e borracha pararem como que bloqueados por uma barreira invisível visto que baseada numa percepção simbólica do que significam as luzes verdes e vermelhas em dispositivos com aqueles. Tudo isso para que eu, pedestre único que era naquele momento, atravessar. Me senti poderoso fazendo parar tantos veículos para que cruzasse, mais solene que de costume, a avenida. Depois fiquei maravilhado ao passar por um lugar, uma locação da superprodução que vivo, que suponho ser mais antigo que eu mesmo, a Praça de Casa Forte. Percebi as pedras portuguesas sob meus pés mesmo com tênis com amortecimento. Em algum momento apareceu um cara que tem a maior cara de ladrão e que eu já conheço das redondezas, ele sabe inclusive o meu nome, e sabia que eu costumava viajar e achou que eu estivesse viajando ou a boataria entre os seus companheiros e sabe-se lá mais quem tenha dado por minha falta, deu nisso. Disse-lhe que estive internado. Ele perguntou se na “Clínica ali?” e olhou para o lado de onde eu vim com um meio sorriso na boca, acho que sugerindo que a Clínica seria o Manicômio que é por aquela direção. Eu respondi que sim. Perguntei se estava tudo bem com ele, tentei ser simpático e puxar um diálogo, foi quando ele me interrompeu e me pediu um cigarro. Com um certo receio do cara, não sei o que em sua figura me amedronta, ou senão me incomoda. Só pode ser preconceito com seu jeito de malandro e a expectativa de que ele iria pedir dinheiro, que não estava disposto a dar pois só tinha duas notas de dez reais para comprar Coca na pizzaria, coisa que vinha maquinando desde a Casa Astral. Dei dois cigarros a ele porque tinha o suficiente e poderiam ser os dois cigarros que fumaria naquela noite, embora tenha se dito com dinheiro para comprar um cigarro, mas algum motivo que não me lembro o impedia. Dei-lhe os dois cigarros, apertei sua mão, do jeito honrado a se fazer, e segui para casa pela Praça, pensando que as árvores grandes podem ser seculares e terem presenciado muito mais sobre aquele lugar que eu, testemunhado muito mais amanheceres que eu, captando a luz do sol que lhes empresta a energia da vida. Terem visto aquele bairro repleto de casarões ser devorado por prédios. O ambiente era extremamente rico e rico em estímulos positivos, caminhei feliz absorvendo a maravilha que é a existência no meu bairro, no meu trajeto e naquela hora da noite, o clima estava agradável, a temperatura amena. Caminhado pensando em tudo isso, um caminhão de lixo enorme, acho caminhões coisas grandes, com seus enferrujados trituradores de lixo de várias e várias coletas como aquela ao longo do tempo, passou bem perto a mim, achei o ronco do motor potente e interessante. Quando estava para dobrar a esquina um carro deu um cavalo de pau no cruzamento e o barulho foi estridente, incômodo, alarmante, levei quase um susto e odeio sustos. Mas não acredito que tenha sido surpreendente o suficiente para me provocar susto, provocou-me raiva pelo sobressalto. Ao me aproximar de casa começou um gostoso e refrescante chuvisco, não ensopava, longe disso, eram gotas pequenas e esparsas, era um prazer senti-las colidindo contra o meu corpo, meus braços e meu rosto principalmente. Entrei no prédio e passaram por mim um homem careca e uma senhora com a bolsa na cabeça tentando talvez proteger o cabelo e a maquiagem da água pois a bolsa para pouco mais servia. Sentei-me na piscina e com essa ideia de superprodução ainda na cabeça... Eita, mas antes de chegar aí, devo contar que passei na pizzaria em vez de entrar no prédio e comprei as duas Cocas de 2 litros que pretendia. A interação foi cordial e três funcionários me cumprimentaram pelo nome lá. Não pedi nota fiscal dessa vez, pois não estava com paciência de esperar, deveria ter pedido, mas a entrega das Cocas demorou tanto que resolver essa última etapa que tomaria mais um par de minutos me pareceu tempo demais e decidi deixar para lá dessa vez. Depois de entrar no prédio quase subo direto, mas lembrei que queria tomar uma Coca na piscina fumando um cigarro e decidi enumerar as coisas sobre as quais queria escrever num arquivo de e-mail que pretendo continuar a desenvolver, eu acho. Não consegui fazer a lista, entretanto, pois outros pensamentos foram me tomando e acabou que tive que apelar para a minha própria memória para descrever as experiências que se me apresentaram ao longo da volta para casa.

Cheguei em casa, meu padrasto estava na cozinha, tentei agir da forma mais natural e simpática possível. À guisa de ver se o meu copo de Coca estava aqui no quarto-ilha, vim e aproveitei para ligar o computador e o ar. Voltei coloquei Coca num copo usado de água que deixaram em cima da mesa, perguntei ao meu padrasto se era dele, mas ele disse que não, então o enchi do negro líquido sem gelo para tomar os remédios como enunciei ao ar, mas com intuito de comunicar o meu padrasto dos meus atos. Me pareceu o mais sensato a se fazer, perguntei-lhe se mamãe estava acordada e ele disse que sim. Fui falar com ela e terminamos a conversa com ela me pedindo que eu falasse com a minha tia-mãe o que iniciou esta narrativa, embora o início da narrativa mesmo tenha começado na piscina e me mandei por e-mail.

1h20. Acabei de bater um rango massa, arroz de polvo com salmão e biscoitos Bono de morango para arrebatar. Vou botas o pijama, essa bermuda me incomoda.

1h23. Grande alívio e até refrigerante, pois as roupas estavam geladinhas do ar condicionado.

Bem vou colar aqui o que escrevi no e-mail.


Superprodução

Vivo na maior superprodução do mundo. Onde todos os seres humanos investem parte do seu dinheiro para produzi-la. Imagina a quantidade de dinheiro que é depositada na sociedade todos os dias? É muito dinheiro e o resultado pude apreciar na volta do Forró. E os papéis sociais se tornam mais ricos e complexos com a intimidade. Os mais ricos deveriam pagar proporcionalmente mais impostos, quanto mais ricos mais altos os impostos. É só dinheiro, pense aquele monte de papel pintado: para que tanto? Se daqui nada se leva e em vez de investir em coisas fictícias, como poupança, ou investimentos financeiros, que, para mim essas coisas, a bolsa de valores e as especulações financeiras, são o jogo de azar mais jogado do mundo e o mais sofisticado também. Em vez de investir em coisas que beneficiariam a sua casa, sua cidade, seu país, seu planeta e preparar o mundo para ser menos inóspito para seus netos, bisnetos e todas as gerações que o(a) sucederem, investir em algo que vai tornar a sua existência melhor, para que isso aconteça da melhor forma possível, bastando para isso alocar uma parte maior dos seu proventos para o bem público. A Singularidade Tecnológica deve ser desenvolvida e ela certamente saberá onde investir os recursos do mundo e transformará o planeta de superprodução, numa hiperprodução para todos os seres humanos. O dinheiro e a mão-de-obra seria transnacional ou seja, você poderia trabalhar e morar em qualquer lugar do mundo, o dinheiro será investido em tornar qualquer grupamento humano melhor, de uma tribo a todas as nações; a fome será erradicada imediatamente, todos teriam acesso a todas os serviços essenciais, à melhor qualidade de vida com educação, inclusive de programação, por mais intuitivo que o sistema será; e chegará a ser tão intuitivo e poderoso que as pessoas poderão ter tudo o que quiserem, todas elas, bastando encomendar ao sistema, com certas limitações colocadas para garantir o bem maior, o bom funcionamento do mundo, o mais justo para a humanidade como um todo. A Constituição de todas as nações e do conselho mundial que gerenciaria a política e a economia mundiais, a ONU, seria a Declaração Universal dos Direitos Humano com o adendo da inclusão digital para todos a partir da alfabetização. Pode-se tudo mesmo e de fato quando da possibilidade de integração mente com mente, consciência com a consciência da supraconsciência terrestre. O inimaginável se tornará possível e cotidiano. Mas voltando aos impostos, além dessa distribuição mais justa e temida pelos ricos, para chegarmos mais rápido ao objetivo proposto é preciso elegermos melhor os nossos governantes, de repente pelo arbítrio da meritocracia.

2h16. Bati três pratões de macarrão e devorei 2/3 do sorvete. E comi os três último Bono de morango da casa. O sono bateu pesadamente. Vou dormir.

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12h47. Ainda falando de impostos e de dinheiro. Não consigo compreender a sanha dos mais ricos em ter mais e mais dinheiro que não usam efetivamente, apenas aglomeram. Que parte dele se transforme em impostos, então, pois não fará muita diferença para os que têm e não usam em nada de efetivamente material. Tornar o mundo melhor para todos, deveria ser uma das metas de vida de todos na Terra. O problema todo reside na máxima, em que acredito, que o poder corrompe as pessoas. Especialmente no Brasil tão afeito aos jeitinhos brasileiros. Acho que a ética, respeito, direitos e deveres deveriam ser ensinados nas escolas pois a mim é óbvio que tais valores não são cultivados no seio da maioria dos lares. Para que formemos cidadãos melhores e a possibilidade de, senão extirpação da corrupção, pelo menos minimizá-la ao máximo pois estaremos formando pessoas melhores, mais éticas e justas. Antes disso, que um sistema seja desenvolvido para a monitoração e escrutínio de todas as ações públicas com punições severas aos infratores, pois, antes dessas gerações de pessoas mais virtuosas chegarem a serem as gerações dominantes, contramedidas de contenção e repressão da corrupção são essenciais. Vejo que no governo Dilma esse movimento começou e tem se perpetrado até os dias de hoje, quase todos os dias, um esquema de corrupção é desbaratado em diversas partes do país, o que acho um grande avanço social que talvez intimide os corruptos a continuar a exercer os seus malfeitos, embora saiba essa esperança ser vã. Mas, num mundo hipotético onde a corrupção não exista, o interesse dos gananciosos por ganhos financeiros ilícitos deixará de ser um atrativo para os cargos de comando, pois esses não serão mais possíveis, e talvez só pessoas com ideias, ideais e vontade genuína de transformar o país, ou estado ou cidade num lugar melhor para todos os habitantes se habilitem para exercer tais cargos.

13h09. Nossa, quanto disparate eu escrevi. Mas me senti bem fazendo, hahaha. É uma grande demonstração da minha ignorância. Que seja! Mostrar-me ignorante e pueril é revelar-me da mesma forma. Mas sugeriria tentar apreciar o mundo como uma superprodução, a maior produção humana, onde a maioria das pessoas investe a maior parte do seu dinheiro para modelá-lo da forma mais adequada às suas necessidade, desejos, caprichos e capacidades. Por onde quer que eu ande eu vejo milhões e milhões de reais investidos e me sinto como protagonista do filme da minha vida que tem direito a ter como cenário a maior produção humana, a civilização. É fantástico, fabuloso, impressionante. Foge à visão cotidiana a que estamos todos acostumados, perdemos de vista a grandiosidade da obra humana. E o mais interessante é que, se quisermos, podemos interagir com os demais atores dessa produção e eles terão as falas e as reações que lhes cabem e poderemos alterar o nosso destino de acordo com essas interações, mudar o roteiro do filme. Em verdade podemos mudar o roteiro do filme no momento em que quisermos, embora sempre pareça um esforço difícil esse da mudança. Para mim é dificílimo. Na saída de ontem, não consegui interagir com as duas garotas que faziam companhia ao meu primo. Acho uma delas bem deliciosa e pensei em dizer que ela tinha um lindo sorriso, que era uma observação sincera, uma constatação, mas a vontade não se manifestou. Não faria grande diferença. Tentei puxar com a outra um papo, disse que havia assistido “A Cabana” como ela havia me sugerido e disse que havia gostado, o que não é uma mentira, e ela retorquiu que o filme era bom e ficamos por isso mesmo. O que me vem agora à mente? Que a possibilidade de publicação do meu livro se torna cada vez mais uma realidade distante. Ou se distancia da realidade. Meu tio não me deu resposta ainda. Talvez eu esteja sendo ansioso demais, não sei. Sei que a esperança se esvai e isso me entristece ao passo que me poupa de uma humilhação pública. Mas o sonho de ser publicado por mérito não me abandona. Não vou pagar para ser publicado. Nem disponho dos recursos. Meu livro é caudaloso e por isso caro de ser produzido, eu suponho. Também não sei se teria coragem de encarar uma noite de autógrafos para o lançamento do livro, é uma exposição que me causa ao mesmo imenso temor e curiosidade. Não sei se teria criatividade para escrever dedicatórias diferentes para as possíveis pessoas que compareceriam ao evento, caso evento houvesse. Preferiria lançar o livro na surdina, sem noites de autógrafo ou alardes. Mas acho que meu tio não viu valor literário algum na minha obra e está empulhado em me dizer isso. Bom, pelo menos é um pensamento extraordinário, no sentido de fora do comum, para ocupar a mente e estas páginas. Ainda me assombra que pessoas leiam este blog. É algo que foge à minha compreensão. Eu mesmo não teria paciência de lê-lo, por mais que o releia toda vez para revisar. Mas eu também sou um caso à parte, não gosto de ler. Acho tedioso demais. E intelectualmente demandante. Embora ter lido o segundo tomo dos “Ensaios” de Montaigne tenha sido, no mais das vezes, uma experiência deveras interessante. Mas a alternativa que me restava, o tédio absoluto, não se afigurava como algo desejado, então me dediquei ao livro. Se fosse ler outro? Continuaria a ler “O Mundo de Sofia” que foi um presente especial de uma pessoa especial. Afora esse, e só leria esse abatido pelo tédio de um internamento, não leria mais nenhum. Não gosto ler, ponto. Gosto de escrever. Muito. Tanto em vontade quanto em quantidade, porque tenho muito tempo para me dedicar ao meu ofício de fé e por isso textos tão longos, pois são longas as horas que passo a me dedicar a eles. E isso me é muito bom. É como me sinto mais eu e mais meu. Embora ter experimentado o mundão ontem me tenha sido uma experiência superiormente interessante por imaginá-lo como o gigantesco cenário do filme da minha vida. Por falar em filme da minha vida, meu amigo cineasta virá depois de amanhã iniciar as filmagens finais de sua obra sobre a minha monotemática vida. Sinceramente não sei como fará para dar dinamismo imagético às cenas que capturou. E em verdade não é problema meu, eu sou apenas o objeto a ser filmado e nada mais. Dei liberdade total a ele, que acho que sempre faz bem criativamente. Poderá tratar e colher qualquer porção do meu blog da forma que lhe couber e poderá me capturar nas mais diversas situações que não são muitas, afora satisfazendo as minhas necessidades fisiológicas, dentre elas a alimentação. Não gosto que me vejam comendo. Acho um espetáculo íntimo e mais das vezes o faço solitariamente. Nossa, como gosto de estar no meu quarto a escrever, ouvindo o “Songs Of Experience” do U2 e olhando para o meu Hulk. É a vida da melhor forma que pode ser para mim. Sei que é uma predileção peculiar, mas é o que faz sentir vivo e dono completo de mim e da minha vida. É um sentimento ótimo e adoravelmente familiar. É onde existo de forma mais completa e relaxada, tranquila, em paz, sem estresses. Poucos estresses passam pela porta do meu quarto-ilha. Mandei uma mensagem de Facebook para o meu tio a respeito do livro. Acho que foi uma atitude inconveniente que demonstra a minha ansiedade pelo assunto. E de fato estou bastante ansioso em relação a isso. Mas prefiro esperar meses e ver a minha obra concretizada do que receber logo um “não dá”. É preciso paciência, Mário, há a hora do plantio e da colheita, não se pode plantar e pensar que colherá no dia seguinte, é necessário que os mistérios da existência ajam e se manifestem em bons frutos, se possível. Ainda estou em dúvida sobre o meu anexo sobre Aurora, mas acho que vou mantê-lo. O livro em si já deixa bem claro para os leitores quem Aurora é, principalmente para quem a conhece. Acrescentar os pormenores de como o encanto se deu é um complemento que acho essencial à compreensão do livro. E acho que deixo bem claro que é uma fantasia, um delírio. Se foi recíproco, o foi por pouquíssimo tempo. Mas não quero tratar disso aqui, não quero dar spoilers muito grandes do livro, vai que ele seja publicado. Dá vontade de lamber a cria e revisar mais, mas já reli duas vezes. Todas as 234 páginas de Word que o compõem. Mas vou revisar o final, os anexos, mais uma vez. Acho que eles é o que carecem de mais atenção.

15h10. Mamãe me fez um café e entendeu pelos meus textos aqui no blog que havia mandado os originais da obra para escritora, o que não fiz. De toda sorte, por respeito à minha amada mãezinha, mesmo que a escritora, se dispuser a lê-los, não os enviarei, mas tenho quase certo que ela não me responderá, pois acho que se fosse para fazê-lo já teria acontecido. Minha única e última esperança é o meu tio. Acho chato incomodá-lo com as minhas sandices, ou melhor dizendo, com o grande sonho da minha vida, mas ele se mostrou tão motivado e disponível a me ajudar que minha alma se encheu de esperança. Se acho meritório ser publicado? Sinceramente acho que sim, pois tudo o que faço é escrever e queria por bem ter uma obra publicada em papel. Até porque umas três ou quatro psicólogas se mostraram interessadas em lê-la, uma até do Manicômio. Não sei o que essa obra acarretaria na minha relação com a Doutora se lhe caísse nas mãos. Acho que seria um escândalo. Talvez se negasse a me ter como paciente seu, visto que não a descrevo com muitos bons olhos. Como poderia, estando internado ali? De todo modo, acho que a obra é meritória de publicação, porém acho que isso só seja possível por intermédio de alguém com mais influência no meio da palavra escrita e não pude pensar em ninguém melhor que o meu tio, que, como já disse, tem o distanciamento salutar da família, pode guardar sigilo do resto dos familiares e me dar uma opinião sincera sobre a minha caudalosa produção. Muito contraditória às vezes. Com alguns pontas não atadas. Acho que me lembrei de uma que posso atar. E revisar os anexos. Vou fazer isso agora. Antes vou revisar e publicar este post, mas esse vou divulgar ao contrário dos dois anteriores.

17h07. Não sei se vou divulgar ainda. Vou ao shopping com mamãe agora, outro cenário rico, especialmente em beldades, do filme da vida. Espero estar certo quanto às beldades hoje. A tarde cede acinzentada à noite que vem se impor contra a cidade. Já estou pronto e irei de sandálias ao shopping porque não há meias para eu calçar. Minha mãe vai questionar a minha escolha de calçado e talvez avente a ideia de comprar meias para mim, o que delongará ainda mais a minha estadia no shopping. Se assim for, vou tentar pleitear duas coisas, uma camisa branca da Hering e um jantar no chinês da praça de alimentação.

21h28. Todos os objetivos alcançados, camisa da Hering comprada, mouse e T para todas americanas com tomada de dois pinos também. Ainda comi no chinês que não estava com um sortimento que me agradasse particularmente, mas fiz um prato razoável e matei a fome, foi a primeira coisa que comi no dia, pois comi como um cavalo durante a madrugada. Não consegui entrar no modo superprodução no shopping, privando da companhia da minha mãe me foquei mais nas nossas interações e objetivos que no ambiente. Não estou ainda satisfeito com este post embora ele tenha percepções muito interessantes, diferentes e posições políticas de uma criança. Ainda trata da Singularidade de maneira confusa, sempre me complico sobre esse assunto.

Meu tio me mandou notícias. Disse que ainda estava lendo que me contataria brevemente.  

22h26. Mandei a versão “definitiva” do livro, desisti de revisar mais, senão não teria fim nem acabamento. Ele disse que já havia lido cerca de 25%. E que só não leu mais por conta de um aniversário. Não emitiu nenhuma opinião, entretanto. Isso me deixa com uma pulga atrás da orelha. Nas dedicatórias do livro no novo arquivo já incluí meu tio como pessoa que tornou o meu sonho possível. Tomara que essa dedicatória premonitória se concretize. É a coisa que mais desejo no mundo.

23h51. Vou dormir. Amanhã tenho psicóloga às 14h00.

0h09. Fumei meu cigarro da noite e coloquei o último copo de Coca. Só penso no livro. Meu tio me convidou para debater projetos sociais. Queria encontrar com ele para debater sobre a vida, não sobre trabalho. Tenho aversão a trabalho, o único a que me dedico com total afinco é este. Mas encontrar com meu tio me parece uma coisa muito interessante e potencialmente divertida. Ele é uma pessoa de conversa fácil até onde me lembro. Promete ser bom. Minha mãe ficou feliz com essa perspectiva. Eu me sinto meio intimidado, mas menos do que poderia julgar. Meu amigo jurista viu a minha mensagem a respeito do filme que quero ver no cinema e nada respondeu. Será que está me evitando por causa da recaída? Não descarto esta hipótese. Preconceito e ignorância a respeito de alguns temas me prejudicam. Espero muito que esse não seja o caso com o meu amigo jurista. Que possamos ir ver o filme.

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10h50. O meu amigo jurista respondeu. Já viu o filme. Deu a entender que se houvesse outro iria comigo.

11h02. Terá o novo dos Vingadores a partir do dia 26 de abril. Quando a bateria do meu celular carregar, pois acabou de acabar, eu aviso a ele tentando combinar. Ir no dia de lançamento acho meio furada. Mas em algum dia subsequente de repente role.

11h11. Estou acordando e estou achando a minha produção superpobre e sem sentido. Dane-se, faço mais para mim mesmo. Para ocupar o tempo e me divertir. O café está sendo feito. Isso sempre me estimula e anima.

11h48. O café foi feito e já tomei duas xícaras. Incrível como me é benéfico ao espírito. Estávamos a elucubrar eu e a fantástica faxineira sobre uma hipotética ida minha ao Big Brother. Disse-lhe que não faria nada. Se me viessem com esqueminhas e fofoquinhas eu sairia fora e o máximo que faria seria limpar os pratos e talheres dos quais me servi. Hahaha. Já tentei ingressar no Big Brother quando em surto de mania e não tenho mais interesse nisso. Bem, só um pouco, mas muito pouco para me motivar a fazer qualquer movimento nesse sentido. Prefiro muito mais ter um livro publicado. Mas minha sede por fama, que não sei por que carrego, me faria enfrentar o Big Brother sem problemas. Quem já enfrentou o Manicômio, a Clínica e o Albergue de Drogados tira o Big Brother de letra. Hahaha. Mas deixemos isso para lá. E sigamos com o que me acontecerá hoje, irei para Ju, minha psicóloga, e não sei realmente sobre o que trataremos. Provavelmente da minha saída. Das filmagens porvir. Ah, ontem no shopping tive a minha primeira experiência com VR (Realidade Virtual) e, embora a resolução não tenha sido essas coisas e não tenha conseguido abrir nenhuma demonstração a própria área de seleção das cenas onde as telas com as opções flutuavam sobre uma sala fictícia me pareceu surpreendentemente imersiva e tridimensional. É uma tecnologia que a qualquer pessoa que viesse de 20 anos atrás acharia mágica. Para onde quer que olhasse a sala estava lá e parecia que eu mesmo estava na sala. É muito interessante. Imagino com os óculos realmente dedicados a isso, como os que meu irmão comprou, como deve ser, se já acoplado apenas um celular e olhando para uma sala já me foi impactante. Imagino um passeio de montanha russa com os óculos apropriados. Acho que vou comprar o Blu-Ray do show da turnê do novo disco do U2 se ela se der. Acho que algumas músicas funcionam muito bem ao vivo, mas só se tocarem “Landlady” a música que realmente gosto do álbum. Liguei o ar, está muito quente, abafado como numa pré-chuva, ainda mais tomando café quente. Nossa, como pude trocar esse lugar que amo e que me é completamente confortável, familiar e acolhedor por estar sentado em meio a carrapichos no cimento duro, às escondidas como um meliante para usar cola? Só sendo muito burro mesmo. Cansei de dar murro em ponta de faca. E da faca me cortar-me os punhos. E de ir parar no Manicômio. O que para mim, já nem é tão deplorável assim, por mais que tenha coabitado o quarto com um cara de personalidade bem difícil. Pelo menos não tinha nenhum distúrbio grave de personalidade. E fiquei novamente na Suíte e reencontrei o Pequeno Buda, que está na ponte Clínica de Drogados-Manicômio há mais tempo do que seria justo para o seu caso. Já está nessa pisada há mais de cinco anos, sem recaídas, e os pais não se dignam a tirar o filho de lá. Nem os endereços onde residem fornecem, para mim é muito claro que decidiram que, pelo valor de uma mensalidade do plano de saúde, oferecem toda a infraestrutura para o filho, teto, alimentação, medicamentos, oferecidos pelas instituições e com suas necessidades básicas garantidas, pretendem deixá-lo para sempre internado, esquecendo de uma necessidade básica e fundamental do ser humano que é a liberdade. São extremamente cruéis e desalmados adotando esta postura e o Pequeno Buda demasiado passivo para acatá-la sem se revoltar e tentar mover tudo o que pode para sair da clausura. É uma combinação de fatores muito prejudicial ao meu amigo. Quando teve alta da última vez, foi necessário acionar o Ministério Público para obrigar os pais a tirá-lo e o mandaram para um lugar ainda pior que em nada se assemelhava com a liberdade tão sonhada pelo Pequeno Buda. E, sem pensar, só querendo se livrar daquela situação terrível em que haviam o metido, aceitou voltar à internação e lá permanece até hoje. Isso caberia no livro, mas já dei por visto. Senão a obra seria algo que não teria fim, sempre me viriam mais acréscimos ou mudanças para serem postas e não acabaria nunca de editá-lo e reeditá-lo. Já mandei como definitiva a última versão para o meu tio, que, como já disse, me contou ter lido mais ou menos ¼ da obra. E quer se encontrar comigo para conversar sobre projetos sociais. Que projetos serão esses me escapa completamente à imaginação e mal sabe ele que não tenho disponibilidade para eles. O máximo que sei fazer são layouts que não primam pela beleza das pessoas que realmente têm talento para a coisa. Não é meu caso, encaro um layout como um problema de disposição de informações a ser resolvido, viso a legibilidade e transmissão das informações da forma mais clara e prática possível, não me preocupo muito com a estética porque não tenho esse dom. Ademais estou destreinado nesse ofício, então não seria capaz de produzir nada de atraente visualmente. Em todo o resto me mostro um imprestável. A minha escrita, que tanto prezo, está desatualizada e em desacordo com as novas normas ortográficas, corrijo só o que o Word me indica e não domino as regras gramaticais, escrevo por instinto. E assim vou levando, porque o blog é meu, a ignorância e a humilhação dos meus textos mal escritos refletem-se apenas na minha imagem, em mim e mais ninguém. Não ouso falar em nome de uma outra pessoa ou instituição, não me sinto capacitado a fazê-lo, então não há nada que possa oferecer em termos de mão-de-obra, para projetos sociais. Ou projetos de qualquer natureza. Não quero trabalhar de novo, não quero me arriscar a ter outra derrocada psicológica devido às pressões e cobranças de um trabalho. Não quero tampouco arriscar a minha curatela. E preferiria conversar sobre a vida do que sobre trabalho com o meu tio. Ele deve ter muito a me ensinar. Bom, vamos ver o que o destino me reserva. Sei que daqui a pouco, quando acabar essa xícara de café que coloquei, vou tomar o meu banho para ir a Ju tratar da alma. Por mais que não tenha nada a dizer. Ah, me prometi falar da minha saída. Da negação social que fui. Minha mãe fala animadamente da viagem, da passagem que faremos de alguns dias em Lisboa e tudo isso me gera desconforto. Eu disse que se ficasse no hotel escrevendo não teria muito problema, mas ela deseja que eu desvende e explore a cidade, o que não tenho a mínima intenção de fazer. Minha única curiosidade em Lisboa, além dos pastéis de nata seria encontrar Marcelo Camelo ou Mallu Magalhães por lá. Mas acho que não teria cara de pau de importuná-los. Ou teria? Não sei. Sei que o café está quase no final e preciso me aprontar para a sessão. O Hulk, há o Hulk, que prazer me dar olhar para ele durante o dia, quando a claridade revela todos os semitons de sua pintura que lhe empresta ainda mais volume e personalidade. Um problema me aflige, como comunicar ao meu tio que tenho aversão ao trabalho, verdadeira fobia? Terei que ser franco com ele, mas ouvirei suas propostas. Bem, vou levar esse assunto à baila com Ju também. Tenho ao mesmo tempo curiosidade, saudade e receio desse encontro. Vou tomar banho. 13h06.

13h22. Já estou devidamente pronto para a sessão. Esperarei chegar as 13h40 para partir, não há muito o que fazer no caminho agora que estou sem iPod. Se bem que posso ouvir Spotify do meu celular, mas é uma coisa que não sei como se opera e me parecerá alienígena nesse momento. Acho que preferirei usar o iPod da minha mãe, se ela me permitir. Embora o dela seja com tela de toque. Acho que prefiro a sua sugestão de comprar outro como o meu na Europa. E parece que a tenho convencida de comprar um Chartreuse verde para que eu beberique uma vez por semana. Será ótimo. Além desses, meus outros desejos consumistas para viagem são um novo frasco de Bleu de Chanel e uma camisa oficial do Bayern de Munique. Esta última vem em último lugar e não a desejo tanto quanto os demais itens da lista. Ah, torçam para a minha irmã conseguir o financiamento da casa própria da família dela! Quem souber orar que a inclua em suas preces. Ela merece, é uma garota esforçada com uma linda família, precisa dessa segurança.

16h08. Deixo esse post por aqui. Vou começar outro. Depois reviso e posto.   

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