domingo, 15 de abril de 2018

PRECISO IR AO SUPERMERCADO


Depois que saí do Manicômio, mamãe quer que eu vá comprar minhas Coca-Colas no Bompreço do final da rua em vez de na pizzaria em frente ao meu prédio, diz que preciso andar e que a economia é significativa. Tem razão nas duas colocações, mas ainda não me condicionei a essa nova realidade e a preguiça me desmotiva a ir. Sei que irei, mas não agora. Nesse momento quero deitar palavras novas pois estava novamente a revisar o texto do Diário do Manicômio, só aguentei revisar 80 e poucas páginas, acrescentei uma lembrança ou outra, achei mais erros e me dei por satisfeito. Meu tio ainda não deu resposta sobre o texto. E nem sabe que acresci a parte de Aurora. Por sinal, estou muito inseguro sobre essa parte, por ser deveras comprometedora e ao mesmo tempo tão inocente quando se pode ser. Mas certamente ferirei sentimentalidades. Tenho uma triste convicção disso. Estou um pouco receoso com as filmagens na terça, como era de se esperar, pois sempre acontece e sempre se dissipa após alguns minutos de gravação. Eu tornei-me um ser tão receoso das interações sociais e isso me incomoda bastante, pois sou acometido por ansiedades totalmente desnecessárias e despropositadas. Tenho que trabalhar isso, só não sei como. O isolamento leva a tais esquisitices. E minha vida é maravilhosa no meu quarto-ilha. Amo estar aqui na presença do meu Hulk, com cafeína na forma de café ou Coca Zero, meu cigarro eletrônico entremeado por um ou outro de verdade e principalmente com as minhas palavras no computador. É quando, onde e como me sinto mais eu. Mais livre e mais dono do mundo. Não preciso do mundo muito além do meu quarto. Preciso sair só para colher os negros líquidos e gelo e para fumar um ocasional cigarro. E me alimentar, é claro. Ir ao banheiro é quase não sair do quarto, pois a porta fica em L com a minha, de frente para entrada do escritório do meu padrasto. Me sinto bem no meu quarto. Chega a ser doentio, eu sei. Sei que estou virando um ermitão urbanoide. Nossa, pensei que o meu tio vai saber de todos os meus podres, será que ele vai achar que vale a pena publicar? Mistério. Espero que o mistério se elucide essa semana. Estou com maus pressentimentos. Melhor que me preparar para a decepção. O que será que o meu tio vai achar do texto? De mim, já sei que formará uma triste impressão, mas se achar que o texto prende a atenção já será mais do que suficiente. Se achar bem escrito, o que duvido, será melhor ainda. Em verdade, quero apenas que ache publicável e que encaminhe esse processo. Que faça meu texto virar livro, o objeto livro, feito de papel. Mas estou curiosíssimo para saber a sua opinião também. Acho que ele vai achar que deixo muitos pontos em aberto. É bom que os aponte para, se eu me lembrar o que ocorreu, poder complementar. Sei lá, estou só especulando aqui. Nada do que disse tem muita validade. Validade vai ter o que ele me disser. Não as minhas inúteis ruminações sobre o assunto. Será que as pessoas da família já se acostumaram com a minha postura retraída e antissocial? Eu sinceramente não sei. Gostaria que se conformassem com isso e me deixassem viver a vida como acho mais válida. E a forma mais válida que eu acho é sentado aqui a escrever. Exatamente aqui no meu quarto-ilha. Será que vai se transformar em livro? Foi resultado de um esforço grande meu. E de uma situação muito peculiar. Só não acho o protagonista/narrador um personagem muito interessante. Como digo no livro, há pessoas com histórias de vida muito mais ricas que a minha, mas só quem se dispôs a escrever fui eu, é o que se tem, é o que ofereço. Lembrei-me de uma coisa para colocar no livro! Assim não vou acabar nunca.

20h09. Coloquei. Estou me preparando para ir ao Bompreço. Saco. O que não faço por Coca-Cola. E vai ter a listinha que mamãe quer que eu traga.

23h15. Não fui ao Bompreço, mamãe me deu grana para ir na pizzaria mesmo. Vou fumar um cigarro e ir dormir.

-x-x-x-x-

8h52. Acordei de 8h30. Estou sem disposição nenhuma para escrever. Não tenho tema também. Nada me ocorre.

9h02. Dei uma olhada no colecionador do mês da Sideshow. E me convenço cada vez mais que abandonei um colecionismo que é para além das minhas posses. Mesmo assim angariei uma modesta coleção da qual muito me orgulho.

9h21. Minha mãe veio me mostrar as matérias sobre o lançamento de dois livros porque sabe do meu movimento para publicar o meu. Já sei o que vou fazer, uma carta para Aurora. Antes deveria publicar as que já tenho. Estou com preguiça. De organizar o material. E queria ter um escâner para poder capturar a imagem da carta que escrevi à mão no internamento narrado no livro. Ou seja, deixa essa ideia para lá. Seria mais legal escrever a carta com uma posição mais clara sobre o livro e quando as filmagens acabarem. Quando tiver algo de mais sólido sobre esses dois aspectos, escrevo.

9h51. Me perdi no Facebook. Talvez hoje tenha Casa Astral. Sem a mínima disposição de ir, mas se a turma for, eu vou, eu acho. Ando tão indeciso. Com vontades fracas e oscilantes. É uma condição chata. Talvez seja porque prefira muito mais ficar em casa enclausurado no meu quarto-ilha do que sair para a vida social. A vida social ainda me intimida. Eu não tenho mais olhos para revisar o livro. Perdi o senso crítico a respeito do que escrevi. Estou saturado do conteúdo. E estou à espera de um e-mail do meu tio. É a coisa mais aguardada da minha vida. E pode vir como um congelante balde de água fria. Realmente não sei o que esperar do meu tio, pois não sei o que esperar do que escrevi. Como disse, perdi o senso crítico a respeito do conteúdo. A única coisa que sei é que fui absolutamente sincero e transparente. E me...

Abandonei o texto acima em nome do próximo, enquanto as minhas memórias estavam frescas a respeito do conteúdo posterior. Vou revisar e postar este sem divulgar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário