segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

DIA DE FESTA, ANGUSTIAZINHA CHATA E REVISADA NOS COMANDOS

Espero que minha transformação seja radical, mas nem tanto! 


11h11. Acabei de acordar e fumar o meu cigarro do despertar. Obrigatório. Meu amigo cineasta já sinalizou que está no prédio e que subiria quando desse o toque. Estou meio relutante em contatá-lo. Vou tomar café e coragem.

11h34. Mandei a mensagem para o meu amigo cineasta. Seja o que deus quiser. A vida já começa agitada nesse dia de festa. Disse-lhe que iria tomar banho, mas estou sem coragem no momento. Vou ver o que ele responde antes de encarar o chuveiro.

11h39. O último post que divulguei alcançou 37 visualizações. Estou espantado. Quantos será que leram até o final? Meu amigo cineasta respondeu, pediu que avisasse quando poderia subir. Disse que quando saísse do banho, daria um toque. Então posso protelar o banho um pouquinho.

11h53. Meu padrasto está tomando banho. Quando ele sair eu entro. Meu amigo cineasta disse que sobe depois de eu tomar banho. Tem momentos, muitos, em que não sei se uso “de” ou “que” depois da palavra. Outra falha que não corrigirei, utilizarei minha intuição. Quem sabe outro dia não pergunte ao Google, mas estou sem cabeça agora para elaborar a pergunta.

12h14. Estava reescrevendo e imprimindo os comandos que repito para afixar na parede em substituição ao anterior e para levar para o meu primo-irmão dar uma olhada. Vou tomar banho, meu padrasto saiu. Preciso encarar essa filmagem. Não é possível evitar e protelar é um sofrimento a mais.

20h51. Cá estou de volta da festa. Foi muito divertida. Meu primo-irmão gostou dos meus comandos de autossugestão. Levei o papel para mostrar-lhe. Me senti inseguro em assumir que gosto de mim, mas menos do que esperava. E continuo acreditando, sentindo que gosto de mim. Ele reagiu mal à mensagem direta que mandei à garota da noite. Isso me preocupa um pouco, mas não muito. Pelo seu jeito, acho que já posso dar a garota da noite como um caso perdido, mas uma aguerrida esperança ainda retumba em meu peito. Embora tudo não passe de fantasias. Pode ser inclusive que a ache uma chata. Se porventura nos cruzarmos de novo. Sei lá. Sei lá o que se passa na cabeça da garota da noite. Ou me recuso a ver o óbvio. Sei lá. Tenho pelo menos a convicção de que fiz, dentro das minhas possibilidades, tudo o que podia até agora. Confesso que, devido à reação do meu primo, estou com muito medo de cruzar com ela. Isso é ruim. Não me faz sentir bem. Depois falo mais da garota da noite. Voltemos à festa. Meu amigo cineasta fez diversos takes para o seu curta e discutimos um pouco sobre a obra. Dei a ele completa liberdade, exceto por uma cena que não posso mencionar aqui, pois achei que seria inapropriada e agressiva, acintosa, em relação a uma pessoa (que não é a minha mãe e que não quero revelar quem seja). Ele me falou que ele não sabia ainda como construiria o filme. Se faria de mim um personagem ou não. Acredito que de qualquer forma que fizer, eu serei sempre um personagem, pensando bem. Disse a ele para fazer o que quisesse. A obra é dele e me sinto muito honrado de ser o ponto focal de sua narrativa. Confessei a ele que não via maneira de ele construir uma narrativa atraente com imagens de mim sentado escrevendo. Mas que isso era o trabalho dele. Filmou também a arrumação das malas com a fantástica faxineira. Estou com um sentimento estranho e negativo dentro de mim, um certo desconforto da alma que vai e vem. Acho que foi a aterrissagem aqui no meu covil, o quarto-ilha, diante do computador me obrigando a narrar o que não estou com disposição de narrar (ao menos agora). Estou usando muitos parênteses, não posso pegar essa mania. Na festa foi muito bom conversar com tantas pessoas queridas, meu amigo cineasta, meu primo-irmão, meu primo urbano, o marido da minha prima, seu irmão. Acho que fui comunicativo na medida em que a oportunidade de me colocar se dava. Ouvi várias coisas interessantes e tive desde papos profundos sobre a loteria que é existir, até papos mais mundanos, como cinema e séries. Desse último assunto fui muito mais ouvinte, me manifestando apenas quando o filme “Her”, um dos meus prediletos, foi mencionado. Foi bom também reencontrar os pais da minha cunhada, eles me trataram com muita estima e carinho, isso deixou meu espírito enlevado, não sabiam que guardavam tanto apreço por mim e pediram para eu transmitir seu amor e carinho pela família que está nos EUA. Levarei as encomendas sentimentais e as transmitirei assim que chegar. Preciso me lembrar disso. No mais, houve recital das tias, que cantaram músicas sobre Jesus de forma muito divertida. Algo que eu acho que meu amigo cineasta captou. Comentei do meu receio em relação aos sobrinhos e fui várias vezes atacado por ansiedade ao me pegar pensando na viagem. Espero que a repetição da frase me acalme mais. Porém é de se esperar certa ansiedade antes de uma viagem como essa. Ninguém achou uma boa ideia mamãe sair do aeroporto para ir fazer o exame.

22h01. Estava falando, ou melhor, praticamente ouvindo minha mãe conversar com meu irmão pelo viva-voz do celular. Convenci minha mãe a comprar o Switch! Eu acho... vou fumar um cigarro para comemorar! Mal posso esperar para cravar os meus dentes no Zelda. E o Mario será a deliciosa sobremesa. Nem acredito. Disse a ela que venderia o boneco para pagar o console.

22h09. Fumei e o cigarro. Meu irmão está planejando atividades na neve, isso não me agradou nem um pouco. Mas que seja o que tiver de ser. Eu que não queria sair de casa, se possível nem da frente do computador, ai, ai... estou travadíssimo com a viagem nesse exato momento. Depois de escrever essa última frase, por alguma razão inexplicável, só pode ser a minha mania de me desdizer, senti um profundo relaxamento sobre o tema. Mas não queria brincar na neve, isso é fato. Eu sei que parece ser divertido, espero que seja. Eu, se pudesse, já encomendaria o Switch, o Mario e o joy-con daqui. Vamos ver, amanhã discuto com mamãe. Eu acho. Não, melhor deixar rolar. Deixa ser...

22h18. A trava com a viagem voltou, fica latejando dentro de mim. Que saco.

22h27. Vou mudar de assunto. Vamos ver o que posso dizer mais da festa. Não há muito mais que queira dizer, me diverti, tomei Coca pela primeira vez na semana, vi pessoas amadas e queridas e passei excelentes momentos com elas. Esqueci de falar para os primos o que havia mencionado no post anterior, de eles serem mais assíduos a tais encontros, não se aterem apenas ao Natal. Interagi com a maioria deles, só não interagi muito com as duas que chegaram depois. Foi bom, foi muito bom. A presença do meu amigo cineasta foi muito positiva. Agregou um valor especial à festa. Para a minha surpresa, ninguém ficou intimidado com a câmera. Foi massa, muito massa. É muito bom ter família, uma das características mais legais da organização social humana. Descobri quem era a pessoa que sempre que publicava um post surgia automaticamente como primeira visualização, meu primo urbano. Nunca poderia imaginar. Grata surpresa, por mais que ele não seja um leitor assíduo, foi um gesto de genuíno interesse pela minha pessoa. Surpreendente. Cogitava antes ser o meu amigo cineasta. Não sei se este lê com periodicidade estes textos e pouco se me dá. O projeto é dele, ele gerencia do jeito que lhe aprouver. Confesso que estou muito curioso e muito envergonhado com o resultado. É, desde já. Mas novamente, não há nada que possa fazer, a existência se encarregará de produzir ou não esse negócio. E do jeito que vier, será bem-vindo. Só não quero assisti-lo junto com ninguém. Prefiro, inclusive, ser o último a ver. Ouviu? Ouviram? Que assistam e não comentem nada comigo. Não quero saber do juízo de valor de ninguém. Isso pode interessar ao meu amigo cineasta, não a mim. É uma exposição grande e não quero observar outros me vendo protagonizar a obra. Não adianta. Isso não vai mudar. Pelo menos é assim que sinto, um bloqueio grande e sólido como a Muralha da China. Que meu amigo cineasta não invente uma première. Se o planeja, que saiba desde já que não estarei presente durante a exibição. É pedir demais de mim, ele não pode fazer isso. Seria um estupro social para mim. Algo profundamente humilhante, independentemente do resultado alcançado. Nossa, só de pensar sinto um forte embrulho no estômago. Não havia aventado essa possibilidade de ter que assistir junto a um público, mesmo que seja apenas a minha mãe e meu padrasto. Não quero, não quero, não quero. Não mereço isso. Espero que minha vontade seja respeitada. Aliás ela vai ser, ninguém pode me obrigar a fazê-lo. E não farei.

22h47. Acho que deixei bem clara a minha posição. Vamos pular para outro assunto. Na minha cabeça agora o que me vem é o Nintendo Switch. Jogar um Mario e um Zelda que estão entre os jogos mais bem cotados já produzidos na história da Nintendo será um prazer inenarrável. Eu olhei para as frases na minha parede, que chamo de comandos, e ao relê-las me sinto reconfortado e com a alma mais serena, livre da turbulência emocional que o curta e a viagem provocaram na minha alma. A angústia não me abandonou entretanto, ela foi direcionada agora para a garota da noite. Que saco isso. Parece que minha alma necessita sentir angústia. Coisa mais despropositada. É viver apenas. É ver onde vão dar os acontecimentos e as intervenções que fiz na existência. Como salientou meu amigo cineasta, o futuro é em parte o fruto de nossas escolhas e ações e tanto mais o são quão mais pessoais elas sejam. Quando envolve o outro, como no caso da garota da noite e da viagem, as coisas dependem dos outros. Eu sei que não sou obrigado a ir esquiar na neve ou coisa que valha, mas me sentirei obrigado da mesma forma, pois não quero dar um vexame familiar, pois é assim que pareceria a todos, então terei que levar quedas na neve e rezar para não quebrar nenhum membro. Interessante que, no passado, eu morria de curiosidade de fazer snowboarding. Hoje, entretanto, nesse exato momento, afinal os quereres são coisas fluidas, principalmente quando se trata de mim, não tenho o mínimo interesse nisso. Mas pelo bem maior da família, me submeterei. Que posso eu fazer? Minha mãe ficaria muito chateada, para dizer o mínimo, se não fosse. E acho que até meu irmão acharia introversão demais. Sem mencionar todos os demais. Acompanharei a caravana, mas não sei se me arriscarei com algum equipamento. Embora seja algo que rechearia o documentário do meu amigo cineasta. Não sei se meu amor pela sétima arte e pelo meu amigo cineasta vai até esse ponto. Descobriremos. Muitos familiares na festa me tiveram por felizardo por estar fazendo essa viagem, disseram que queriam estar no meu lugar. Trocaria sem pestanejar de lugar com eles. Nossa, retiro o que disse, isso me soa tão mesquinho e amargo. Tão desmesuradamente antissocial que me envergonho de carregar tal sentimento. Mas preciso dar vazão a ele aqui. Já que não tenho outra escolha. A viagem vai ser boa. Tenho que repetir esse que é um dos meus comandos, para ver se volto a me aclimatar com a ideia. Foi que essa de escorregar na neve não estava nos meus planos. Me pegou de surpresa e me gerou forte repúdio. Não deve ser tão ruim quanto estou imaginando agora. E para o filme, só preciso descer uma vez e passar por um papel muito ridículo. Pare com isso, homem! Você pode se divertir. Que coisa de bicho do mato! Seja gente. Está difícil, mas vou na de Zeca Pagodinho, deixa a vida me levar.

23h12. Estou mais tranquilo, pero no mucho... preciso praticar as minhas frases antes de dormir. Talvez elas me tragam algum alento. Estou com a alma agitada agora como mar em tormenta. Ou uma grande tempestade em copo d’água. Catastrofizando a respeito de tudo, da filmagem, da viagem, da garota da noite. Nossa, como me sinto aflito. Preciso ter mais inteligência emocional. Meu primo-irmão falou que inteligência emocional é algo já sacramentado na psicologia. Entendo que seja a forma mais sensata de lidar com os sentimentos. Uma coisa que me traz profundo alívio agora é que tudo isso um dia vai ser passado para mim. Tudo passa. Não queria que a garota da noite passasse, queria passear pela vida tendo ela por companheira. Acho que seja uma pessoa boa e legal. Além de bela. Posso estar redondamente equivocado. E aí já começo a puxar para mim sentimentos negativos. Que coisa ozzy. Não tem palavra melhor, estou sendo profundamente ozzy agora, demasiadamente ozzy. Preciso respirar fundo e relaxar. Pelo menos, demovi minha mãe da ideia de se aventurar a fazer o exame quando da nossa parada em São Paulo. Ela disse que talvez vá à cidade em fevereiro e aí realiza os exames com todo tempo e calma do mundo. Ainda bem. O tempo está voando aqui. Já é a terceira vez que ouço “Arisen My Senses” desde que cheguei. Segunda e terça o meu amigo cineasta vem me filmar. Nossa, deve ser a história da posição de Mercúrio no Sistema Solar, mencionada pelo meu primo urbano e dito a ele por sua namorada, que está afetando o meu juízo. Só pode ser obra dos astros. Hahahaha. Em vez de culpar a mim mesmo por esse bando de asneiras, culpo os planetas. Nada mais conveniente. Preciso acatar a realidade do jeito que é, perceber que estou catastrofizando – o que já percebi – e tentar fazer o movimento contrário. Embora esteja difícil. Fico imaginando a situação constrangedora para a garota da noite e para mim no caso de nos cruzarmos. Não preciso pensar nisso, ela certamente não coabitará o mesmo círculo social em que eu estiver, então não há problema. Se já estiver mais confiante, coisa que desconfio que não estarei, digo a ela que não mordo e sou vacinado. Até parece! Hahahaha. Já começo a me pôr sandices na cabeça. Mas, calma lá, tudo é possível. Quem sabe o poder de condicionamento da autossugestão seja realmente transformador... é praticar e pagar para ver. Se ela me evitar, é a vida. E a vida está me parecendo muito com isso. Deixa para lá. Vou relaxar. Mas está difícil relaxar. Estou excitado e ansioso com a viagem que está bem diante de mim e se aproxima ferozmente. É difícil relaxar, mas tentarei. Sobre o quê poderia escrever que me desviasse desses assuntos que me assombram? Só se fosse ficção. Não devia ter contado ao meu primo o que escrevi para a garota da noite, um terço das minhas aflições desapareceria. Isso é ficção, pois contei e a realidade se fez e fez meu primo levar a mão à testa num espontâneo e incontido gesto de repressão, de “que cagada Mário fez!” É a vida. Estou tentando navegar por ela como sei e como estou tentando descobrir. Não gosto de mim tão antissocial como me sinto. Por isso mesmo tenho que fazer o movimento contrário. A vontade que tenho é compensar essa coisa ruim no peito comprando o videogame, o jogo e o controle extra. Obviamente não o farei. Queria ter uma Coca para beber. Não tenho e não terei. Não vou fazer café senão vararei a madrugada acordado me martirizando. Que foi praticamente apenas o que fiz desde que cheguei em casa. Não tenho a mínima necessidade disso. É melhor relaxar, apaziguar a alma, porque nenhum desses meus problemas, são problemas de fato. Sou eu agigantando situações peculiares, mas triviais da vida. A menina não querer nada comigo é uma coisa da vida. Isso será passado um dia. O coração sara. Sempre sarou, sempre sarará. A viagem também não é o bicho de sete cabeças que faço. Vai ter alguns momentos mais desafiadores para o meu atual estado de espírito, mas essa também será passado e pode, quem sabe, me trazer saborosas lembranças. E em relação ao projeto do meu amigo cineasta, digo a ele desta minha condição de não querer de forma alguma assistir o vídeo em companhia de ninguém. Nem pela segunda ou milésima vez. Ele há de respeitar. Deixei-o invadir a minha intimidade e não me importo com isso, mas nada vai me obrigar a passar por uma situação que acho profundamente constrangedora como mil parabéns para você. Estou fora, definitivamente fora dessa. E, enfim, tudo isso passará. Eu um dia passarei. Preciso aproveitar enquanto posso, não ficar me lamuriando em vão. Eu não amo a garota da noite (ainda). Estou só enamorado de sua aparência, nem menos, nem mais. Eu amo o meu irmão (para caralho). Eu não preciso ver o curta em companhia de ninguém se não quiser. Simples assim. Vixe, nem assim eu acalmo a alma, que saco. Sou muito besta mesmo. Acho que vou dormir. Talvez uma boa noite de sono me seja a coisa mais benéfica, mais terapêutica que posso fazer. Que calor é esse ? Vou ligar o ar.

0h11. Comi. Isso me fez extremamente bem. Já não em sinto tão angustiado. O sono certamente me ajudará a colocar esse monte de sentimentos em torvelinho na devida perspectiva. Até me apiedo de mim, o que é horrível, eu sei, me vendo sofrer por coisas tão tolas. Quantas pessoas há no mundo com sofrimentos realmente reais para eu estar me lamuriando da vida excelente que tenho? Quantos não estão passando fome, frio, dor, fadiga, medo, terror verdadeiro? E eu aqui do trono do meu quarto-ilha me fazendo de coitado. Eu preciso é criar vergonha na cara. Ser um pouco menos infantil e encarar uma realidade que pode inclusive se mostrar altamente positiva e seguir em frente. É, acho que a comida me fez bem. Pelo menos fez bem ao meu superego. Às vezes ele é bem-vindo. Para fazer o rei-bebê parar de choramingar. É isso que devo ter parecido nos últimos parágrafos, um bebê chorão. Que vergonha. Me sinto embaraçado. Mas o que senti foi extremamente real e se apoderou de mim com muita força. Poderia apenas ser calor e fome se manifestando de outras formas, não sei. Sei que todas as preocupações em relação aos três temas ainda existem, mas convivo com eles de forma emocionalmente muito mais branda que há alguns minutos. Tomei meus remédios também. Mas não foram eles, não houve tempo para fazerem efeito. Foi a comida mesmo. Bem, vou começar o meu ritual de recitar os meus comandos. Não posso me sabotar nisso também. Aliás, não me sabotei em nada hoje, existi bem no mundo e até convenci mamãe a me dar o Nintendo Switch, eu acho. Ela não sabe as duas pílulas de felicidade que está me dando com o Switch. E mais poderão vir, talvez. Quem sabe o que a Nintendo ainda tem na manga? Um novo Metroid? É algo com o que o Wii U não foi agraciado. Talvez seja a vez do Switch receber tal honra. Mas para mim bastam o Mario e o Zelda. Esse assunto me deixa positivamente excitado. O que era uma impossibilidade ontem, tornou-se possibilidade plena hoje. Além disso, meu amigo cineasta captou várias tomadas interessantes, eu creio. Afora essas duas coisas, meu primo-irmão me consolou dizendo que há várias mulheres no mundo. Embora essa última parte não me convença. Não, não vou começar de novo. Basta. Prefiro calar a voltar a me choramingar por causa de uma mísera mensagem eletrônica para uma figura que eu nem sequer conheço direito. Nem sequer conheço. Ponto. Conheço de vista apenas. Não de alma que é o mais importante. Selei a possibilidade de conhecê-la. “Arisen My Senses” de novo. Não importa, amo a música, mas já são 0h33 e eu preciso repetir muitas frases muitas vezes. Frases que, quem sabe, me transformem em quem eu quero ser e quem não consigo ser pelo poder da vontade apenas. Eu gosto de mim e gosto muito mais da vida assim, com essa leveza de quem se carrega sem esforço. Sem culpas. Sem se punir. Bem, quase sem me punir. Nesse post foi só o que fiz. Hahahaha. Mas já me sinto melhor por lembrar que sim, eu me perdoo e me aceito do jeito que sou. O que fui, fui, o que sou, sou e, se tudo der certo, serei ainda um pouco mais do que sou. Melhor em vários sentidos que me agradam. Tomara.

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13h58. Já acordei em grande conflito interior. Não sei se é a viagem ou a falta de café. Coloquei café, não sabia que tinha café feito desde ontem, ainda está levemente morno. Para quem tomou café gelado no Manicômio está ótimo. Mas nem o café, por ora, está me aliviando. Aliás, já me sinto sensivelmente mais aliviado. Vou pegar mais uma xícara.
                                                                                                            
14h13. Mamãe está embromando para fazer as malas e amanhã vai trabalhar. Seria bastante salutar que ela já tivesse as malas prontas hoje. Com a segunda xícara de café me sinto um pouco mais tranquilo. Não é possível que todo esse bem-estar que venho experimentando esses dias seja fruto exclusivo da cafeína, que os comandos nada têm a ver com isso. Não posso crer. Acho que gostar de mim, se deu por causa dos comandos. Café não opera esse tipo de mudança de paradigma. Por sinal, vou repetir os comandos agora. 14h23.

14h34. Só repeti os dois primeiros comandos, são, deixe-me ver, 11. Acho que recitar muitos de uma vez dificulta a assimilação. São muitos para pouco cérebro. Acho que me focando em dois por dia está bom. Eu vou me focar nos dois comandos mais essenciais para o futuro imediato, “eu vou gostar da viagem” e “eu sou comunicativo legal e agradável”. Poderia criar comandos específicos para a viagem, como por exemplo “eu gosto de brincar com os meus sobrinhos”. Mas esse comando é tão avesso à minha pessoa que posso ver o meu sistema de crenças desmoronar por causa do fracasso com esse comando. Eu definitivamente não quero brincar com os meus sobrinhos. Por falar nisso, ao mandar o e-mail com as informações da viagem para o meu irmão, reafirmei de forma bastante enfática que estou antissocial e arredio e ele respondeu “No worries, bro. Só quero a sua felicidade. Haja da forma que achares melhor.” Mas ele é uma pessoa singular, os demais (e principalmente as demais) certamente não serão tão compreensivos(as). Seguir o lema de Zeca Pagodinho. Fico mais feliz, por mais contraditório que possa parecer, que o café não esteja debelando a minha agitação anterior. Isso para mim é uma prova de que o meu bem-estar não deriva somente da cafeína, mas talvez, quem sabe, também dos comandos que eu me aplico. Tomara. A primeira prova de fogo será essa viagem. Mamãe não consegue se focar em arrumar as malas, estou vendo ela passando maquiagem agora. Bem talvez esteja escolhendo o batom que vai levar, sei lá. Estou meio disléxico hoje, digitando supermal, acho que é porque estou com vários pensamentos entrecruzados, como um mosqueiro dentro da minha cabeça, a zunir e confundir a minha atenção. Todos relacionados à viagem. Ano que vem, não quero viajar de jeito maneira. Ano que vem gostaria muito de arrumar uma namorada. Embora só de aventar essa ideia, me dê um frio ruim no estômago. Estou sensível demais. Vixe. Que homem chato me torno. É o temor de sair da zona de conforto. Da zona de segurança. Do desconhecido. De desbravar mares além do meu quarto-ilha.

15h02. Eu vou gostar da viagem, eu vou gostar da viagem, eu vou gostar da viagem. Repito isso em voz baixa para mim mesmo, tentando me convencer do oposto do que sinto. Confesso que repetir a frase me traz certo alento para a alma. Isso é o que acho fantástico nos comandos, pelo menos eles têm um efeito imediato, não sei a longo prazo também. Mas gostaria de crer que sim. Acho que vou jogar um pouco de videogame. O game do Toad, claro. Olhei para o Wii U e ele está com a luz amarela. Acho que significa que está fazendo algum update. Assim que a luz ficar vermelha eu jogo. Ficou.

15h59. Passei até que um bom número de fases no Toad, a maior parte recebendo a coroa, ou seja, completando todos os objetivos da fase. É muito divertido o jogo. A dificuldade no limite certo e uma engenhosidade nas fases que me botam a pensar, como é que esses caras inventam isso? Eu decerto não teria tal criatividade. Eu não tenho muita criatividade, essa é a verdade. Eu não sei direito o que significa criatividade, sendo ainda mais sincero. Como criativo de publicidade que eu fui, o que “criava” eram recombinações de informações e experiências que eu tive postos de maneira curta e atraente, nada mais que isso. Eu não consigo imaginar algo que não exista, eu não tenho essa criatividade e isso não me incomoda muito. Gostaria de me meter a fazer contos de novo, mas não muito. Senão me empenharia e faria. Prefiro narrar minhas desventuras na vida. É o mais divertido e fácil de se fazer. Se bem que esse post, pelos ânimos que me despertou, a angústia e a ansiedade que afloraram em mim ontem e hoje pela manhã não foi tão divertido assim. Agora que joguei um pouco, me desconectei mais dessa coisa de viagem e dessa história de comandos, estou mais tranquilo, em paz. Eu gosto da vida novamente. Não estou tão preocupado com a viagem, mesmo assim, é melhor não pensar nela, acabo de perceber. Minha mãe fala com minha irmã pelo WhatsApp, perdendo valioso tempo que poderia estar utilizando para arrumar a mala. Mas não me intrometerei nisso. A mala é dela, o deixar para última hora é um comportamento dela, o estresse em demasia é uma questão dela. Minha teoria é que ela é meio viciada em estresse e não percebe isso. Eu tenho profunda ojeriza ao estresse. Eu odeio estresse. Sou muito intolerante em relação a ele. É uma coisa que sinto que me faz mal ao juízo, por isso fujo dele. Mas há estresses que são necessários enfrentar para crescimento pessoal. E para lidar com eles, criei a série de comandos. Eu vou gostar da viagem, eu vou gostar da viagem, eu vou gostar da viagem. Olhei para a folha de comandos à minha frente e fiquei me repetindo isso. Não está funcionando direito. Ainda bem que mamãe desistiu de fazer o exame na janela de tempo em que ficaremos mofando no aeroporto de São Paulo. Isso já é um grande alívio. Meu padrasto me botou uma paranoia em relação a trazer muitos bonecos, de que eu vou ser parado na alfândega e terei de pagar multa. Por que ele fez isso? Se da outra vez ele disse que Guarulhos era um aeroporto em que ninguém olhava as bagagens? Eu, hein? Bom, vou tentar trazer dois bonecos grandes, além do Nintendo Switch, games e o controle extra. Eita, ainda tem o celular! Mas não levarei o meu, então faz de conta que o que trago é o que levei na viagem. Meu sacrossanto saco, cerca de 24 horas de traslado na ida e mais outro tanto na volta. Fora ter que ir brincar e esquiar na neve e participar de programas familiares. Não queria nada disso. Mas é a vida e, como já disse em outros posts, ter expectativas tão negativas tem o seu lado bom, pois qualquer coisa positiva é lucro. E, sinceramente, eu não consigo divisar nenhuma coisa positiva, aliás, há a companhia do meu irmão e os papos da minha cunhada. Mas até a isso estou meio refratário. Que coisa... chatíssima...

16h42. Apaguei cem e-mails de uma vez agora da pasta de e-mails promocionais. Isso me deu um alívio legal. Lembrei também que talvez na segunda-feira role uma foto da minha cadelinha, Poeira, que tem nova dona e é tratada com muitos luxos no Jordão Baixo. Uma grande notícia tendo em vista que a última vez que me contaram de Poeira, disseram que ela havia morrido atropelada, o que me partiu o coração. Carreguei essa culpa canina por mais de dez anos, até que decidi perguntar a verdade verdadeira a quem de direito, no caso, a mesma pessoa que me contou do atropelamento. Não fiquei com raiva da pessoa, entendi a sua motivação para criar a trágica estória, o fez com medo de que eu quisesse reaver Poeira e roubar-lhe da nova dona. Agora, tantos anos depois, pressionada a me dizer a verdade, ela abriu o jogo. Espero que dessa vez a história proceda. Só acredito vendo a foto, afinal é uma versão totalmente oposta a primeira. E sou meio São Tomé e quero ter uma foto de Poeira nos meus arquivos de recordação.

17h09. Mamãe saiu e foi ao shopping, cuidar da beleza para a viagem. Ser mulher tem muitas peculiaridades que me desagradam, caso fosse uma. Mas adoro que cuidem de suas vaidades, acho belo, quando não cai no vulgar. Estou sozinho em casa. Vou reiniciar o computador para ver se o som sai do meu aparelho, está dando o bug de conexão de novo. Meu penúltimo post já está com 55 visualizações. Estou abismado. Não que todos tenham lido tudo. Acho que uma parcela mínima se deu ao trabalho. Mas acessaram. E isso me deixa muito contente. 58 agora. Capaz de entrar entre os mais lidos, reduzi o espaço temporal do plug-in que mostra as postagens mais populares, de mais vistadas de todos os tempos para as mais vistas do último ano. Assim, com o tempo, as postagens mais atuais vão aparecendo, senão nunca apareceriam, visto que antes divulgava para os meus amigos lerem e eles de fato liam. E eram posts bem menores do que hoje, o que também ajudava. Meu primo urbano fez menção de concordar quando disse que os posts atuais estavam muito caudalosos, mas se conteve quase a tempo, achou por bem não querer reprimir a força motriz da minha vida, o que lhe dá sentido e direção, o que preenche o que seria um enorme vazio existencial de tédio e ócio, visto que a sociedade é organizada para que se ocupe grande parte do tempo com trabalho, tornando assim a maioria, senão todos os meus amigos inacessíveis durante a semana. Sim, eu fiquei de reiniciar a máquina, mas não o farei ou o Windows vai instalar uma atualização logo agora que começo a engrenar na escrita. Entrar no meu modo catártico. Foi só falar isso que me vi sem ter o que dizer. Cada vez desgosto mais dessa mania interior de me desdizer, de querer fazer o contrário. Ô, coisa chata. Ainda bem que para as coisas mais importantes e perigosas, estou em paz e não há contradição. Combinei com minha mãe que ela fará uma garrafa de café quando voltar do shopping. Veremos. Pode ser que volte muito tarde (para ela) e esgotada e queira ir logo dormir. Amanhã tem filmagem aqui em casa. Ou lá embaixo, quem sabe, acho uma boa mudança de cenário filmar na piscina. Afinal, por mais que não escreva pela manhã lá, eu escrevo lá. Ou costumava escrever quando da presença do meu amigo da piscina no prédio. Vou aproveitar e fumar um cigarro. Acho que ainda há um resto de café na garrafa. Frio. Mas, como disse, já tomei cafés piores no Manicômio.

17h35. Fumei o cigarro com um restinho de café. Muito bom. Levarei cerca de uma carteira e meia de cigarro para os EUA. Espero que dê. Não me vejo fumando muito no frio avassalador que está e estará fazendo lá. A última notícia que eu tive é que estava a -11 graus Celsius. Meu padrasto disse que é um frio de congelar a orelha. Não quero pensar nisso, é ficar morrendo de véspera. Qualquer coisa, me atenho ao Vaporfi no porão. Espero que me deixem fumar o Vaporfi no porão. Quem me dera deixassem eu fumar no escritório fechado. Por falar em Vaporfi, preciso levar a carta de Natal que redigi num dos envelopes que trouxe da Alemanha e encher as bisnagas com o líquido do Vaporfi para levar. Mas faço isso amanhã. O que farei hoje é preparar a minha medicação para a viagem. Só. Quero aproveitar as minhas últimas horas em solo brasileiro, no meu quarto-ilha, escrevendo e jogando. Os dois próximos dias prometem ser de filmagem. Foi o que combinei com o meu amigo cineasta. Quando estou sendo filmado, é muito difícil não narrar o fato de estar sendo filmado, não consigo não fazer isso. Ou não consegui até agora. Fico supertravado. É natural por ser tão antinatural. Nossa, como gosto desse estado em que me encontro agora, de puro prazer com a escrita, isso faz a minha vida valer a pena. Lógico que uma namorada acrescentaria uma nova dimensão ao meu cotidiano, mas tenho que gostar dele mesmo sem namorada, afinal, uma garota não pode servir de alicerce para a minha felicidade. Nem de muleta. Preciso ser feliz comigo mesmo, com a vida que levo e as coisas que faço em primeiro lugar. Até porque acho namorada algo extremamente difícil de conquistar. De qualquer forma, não desistirei e sempre que uma garota me encantar, tentarei, espero, fazer algum movimento de aproximação. Ainda não estou confiante disso, ainda me pelo de medo de chegar em uma desconhecida. Não consegui introjetar a frase de ser desenrolado, sedutor e legal com as garotas.

17h58. Fiquei repetindo essa frase um bocado de vezes agora. Vamos ver se o meu inconsciente assimila essa informação e a materializa em atos que reflitam esses comandos. Sei que me sinto mais confiante depois dessa repetição, para encontrar e travar uma conversa com a garota da noite, caso ela me dê alguma brecha. Caraca, eu nem acredito que vou ter um Nintendo Switch com Mario e Zelda. Talvez não tenha. Mas parece que o universo conspira a meu favor nesse aspecto. Se trocaria o Nintendo Switch pela oportunidade de namorar a garota da noite? Eu já não me fiz essa pergunta? Bom, de qualquer forma, trocaria sem pestanejar. Graças aos céus a existência não me impõe tal escolha. Mas acho uma namorada uma fonte de experiências muito mais sublimes, ricas e profundas que os videogames. Ter alguém para sentir e matar saudade, ter intimidade, para conversar, para trocar carinhos, até para fazer sexo. Estou um pouco mais apegado ao sexo e um pouco mais confiante em relação a ele. Preciso reformular a frase, entretanto, para algo tipo, eu amo fazer sexo, é muito divertido e bom. Acho a frase “eu amo fazer sexo” muito estéril, adicionar as palavras “bom” e “divertido” dão uma encorpada e agregam valor ao ato. Isso é muito salutar. Ou, eu amo fazer sexo, é muito gostoso. Acho que essa é a forma definitiva. “Muito gostoso” tem a dose de prazer e safadeza que o sexo precisa possuir para mim. Gostoso remete a gostosa, por isso a safadeza. Eu sou gostoso é outra frase que poderia entrar para o meu rol, quando atingir um nível mais elevado de autoaceitação. Assim como sou agora, não me soa lá muito verdadeira essa afirmação, mas a repetirei mesmo assim, pois a repetição, faz minar a minha insegurança em relação a me aplicar rótulo tão prepotente e convencido na minha atual opinião. Se eu me achar gostoso, talvez as garotas também me achem, sei lá. Não custa nada tentar, só tempo. E tempo tenho de sobra. É uma pena que não possa ficar repetindo as minhas frases dentro do avião, sob pena de incomodar os demais passageiros e de me passar por louco. Seria uma oportunidade ótima, de utilizar uma porrada de tempo inútil e sofrido e revertê-lo a meu favor. Mas não dá. A viagem será uma epopeia odiosa e cansativa. Nossa, odeio viajar. No ano que vem, não irei viajar para canto nenhum. Só se for a Areias. Ah, começo a me apegar a água gelada, como me apeguei à Coca. Isso é muito, mas muito bom mesmo. E não precisou de autossugestão, mas foi, da mesma forma, um recondicionamento de comportamento. Pontos para mim. Hahahaha. Espero que eu não me torne um esnobe, narcisista e convencido com essas minhas autossugestões. Acho que não me tornarei, há comandos como “sou legal”, “sou confiável”. Gostei de repetir “eu sou gostoso”. Hahahaha. Está me descendo macio e fazendo uma carícia enorme no meu ego cada vez que repito a frase. É muito bom ouvir elogios mesmo que autoelogios. Nunca me considerei gostoso na vida, pelo contrário, sempre me tive por um ser humano feio, gordo e sem nenhum sexy appeal. Tal visão não me levou a lugar nenhum e não me fazia bem de modo geral; eu não gostava de mim, ponto. Hoje por causa desse simples exercício, de mentir para mim mesmo, ou de me dizer o que sempre sonhei ser, eu não me acho assim tão feio e desprezível. Eu acho até que conseguirei acreditar que sou gostoso! Hahahaha. Se acreditar nisso, acho que estou feito. Emagrecendo, claro. Meu irmão disse que comprou diversas guloseimas, mas me segurarei para comer o mínimo de porcarias lá. Eu não quero sair de casa. Não precisaria, só para comprar o bendito tênis que mamãe quer que adquira. Não queria comprar tênis lá, em inglês, já vou trazer coisas demais dos EUA, se o agouro de meu padrasto vingar e eu for parado na alfândega, estou ferrado. Vamos ver o que a existência me reserva. Uso muito essa palavra “existência”, né? Não gosto de nomear de destino ou acaso, prefiro existência, é uma palavra maior que engloba tudo, todos os conceitos, preconceitos e quetais. Existência é tudo o que é, o que foi e o que será. Existência é maior do que a vida, pelo menos do que a minha. Eu sou um nada perto da existência. Um nada tentando se convencer de que é gostoso. Hahahaha. Um nada que talvez seja barrado na alfândega. Ou não. Torcer para passar direto, como da outra vez. Esses bonecos... para mim, excetuando-se o Hulk e a Sonja são uma grande dor de cabeça para mim. Eu vou separar o joio do trigo lá na casa do meu irmão e dizer que ele dê o que eu não quero. Os que tenho aqui que não quero, vou ver se boto para vender na loja que a minha mãe descobriu. Quero solucionar de uma vez por todas esse problema. O pior é que não poderei trazer todos agora. Só dois grandes. Mas espero conseguir reduzir para dez ou doze o número de bonecos que quero trazer. Menos, se possível. Mais uma vez, veremos.

19h07. Estou repetindo “eu sou gostoso”. Acho uma frase tão fútil como útil. Acho que mais útil do que fútil. Se eu acreditar que sou gostoso, pode ser que isso transpareça de alguma forma para as garotas, na minha postura, na minha atitude, no gestual, sei lá. Nunca fui gostoso! Mas estou me condicionando para ser agora. Tudo depende da minha fé de que sou efetivamente gostoso. É a frase mais gostosa de repetir até agora. A forma como eu falo gostoso me soa deliciosa aos ouvidos. É bom danado de ouvir. Hahahaha. Uma pessoa pode sim se divertir consigo mesma. Não apenas praticando onanismo. Eu sou a prova disso. Estou me divertindo tentando me fazer acreditar que sou gostoso. Acho engraçado um cara que sempre se achou o Corcunda de Notre Dame querer dar um giro de 180 graus e passar a se achar gostoso, ou seja atraente para as mulheres. É tão absurdo e ao mesmo tempo tão desejável e desejada essa mudança de paradigma que eu me divirto. É muito difícil eu me convencer de que sou gostoso. Mas, se isso se der, vai ser uma revolução na minha vida. Já pensou a garota da noite olhar para mim e me achar gostoso? Estaria a um passo de conquistá-la. Talvez ela até se jogasse para mim. Espero voltar a reencontrá-la transformado. Por dentro e por fora. Um ser humano melhor em todos os sentidos, confiante, de bem consigo, sem bucho, cabelo e barbas razoavelmente aparados, cortar o cabelo a cada dois meses e fazer a barba a cada duas semanas. Depois do Nintendo Switch, do Hulk e da Sonja, não há nada mais que eu queira de material por um bom tempo. Daí posso investir em roupas mais charmosas, mas não saberia escolher isso. Acho que estando esbelto qualquer roupa cai bem. Tenho camisetas interessantes aqui, de Björk, por exemplo, que não cabem em mim. Ainda. Caberão. Estou confiante disso. E quando couberem bem, eu me sentirei preparado para encarar a garota da noite. Não. Estou equivocado. Eu tenho que estar preparado desde a volta dos EUA. Se estiver magro, vai ser um pouco mais fácil apenas. A forma como eu me vejo é que faz toda a diferença, acredito. Sei lá. A vida dirá. Pelo menos pensando sobre essas mudanças que quero operar em mim ou que estou operando em mim (queria muito que essa segunda fosse a verdadeira e no fundo acredito que seja, estou tomado por uma fé adamantina no meu recondicionamento comportamental pela repetição), eu me sinto bem melhor, sem ansiedade, de alto astral, de bem com a vida. Mesmo a viagem estando em cima. Não acho, no momento, que vá ser nada tão trágico assim. Posso acabar colhendo bons momentos da minha estada no porto seguro de Franklin. Mudando de pau pra cacete, como dizem, eu me senti muito burro conversando com meu primo que trabalha com internet das coisas, muito do papo me deixou voando e me questiono agora se estou perdendo a minha capacidade de interpretação de texto ou se ele foi muito técnico comigo. A alienação tem desses efeitos adversos. Mas não quero deixar de ser alienado. Não quero parar de escrever. Só para jogar games. E namorar quando o tempo vier. Não tenho o mínimo interesse no que se passa no mundo. Já se passam coisas demais na minha cabeça que me tomam todo o meu tempo. Espero um dia não olhar para trás e achar todo esse papo de autossugestão ridículo.

20h20. Joguei um pouco mais do jogo do Toad, só que morri por um vacilo e desisti de jogar a fase do começo. É uma fase de mestre. Acho mestres de fase uma das piores invenções dos videogames. Raramente acho um mestre divertido. Acho que raras exceções são os mestres de Super Mario Galaxy e alguns de Zelda. Mas, via de regra, não gosto deles. Não sei se acharei a autossugestão ridícula algum dia olhando em retrospecto. Acho que não, pelo menos por três ou quatro dias consecutivos eu gosto de mim. Isso já significa muito para mim. Se eu mantiver isso já vai ser bom demais. Já é muito, o inimaginável para mim. Eu olho para trás, para tudo o que passei e me considero um vitorioso hoje. Não me via assim. Me via como um fracassado, alguém desprezível. Não mais. Por mais que o rótulo de curatelado ainda me pese, eu me incomodo menos com ele. A justiça me declarou como tal, quem sou eu para discordar. Sei que não sou capaz de ter um trabalho convencional. Eu tentei, e tentei, e tentei e tentei uma vez mais. Não deu para mim. Não deu mesmo. Eu optei por viver, por mais que a vida me parecesse algo odioso e vil. Então, danem-se as convenções sociais, sou curatelado e tem gente que gosta de mim curatelado. Mais importante, eu gosto de mim, por mais que um pouco embaraçado de ser curatelado. Vejo isso como uma parte pequena do que me define. Quem quiser por uma lente e aumentar e se ater a essa característica, só querer ver isso de mim, um abraço, não me interessa. Eu sou feliz honestamente. Foi essa a única coisa que meu pai pediu que eu fosse. Hoje, nesses segundos que se desdobram incansáveis, eu sinto que alcancei essa meta. Ou o mais próximo que consigo de me aproximar dela. E esse é um sentimento ótimo, eu gosto de viver, gosto de mim e não faço nada de mal a ninguém. Talvez encha um pouco o saco da garota da noite, mas afora isso, nem a mim me faço mais mal. Essa é a grande revolução da minha vida, graças ao meu primo-irmão que me deu a ideia de repetir para mim mesmo essas frases motivacionais e positivas. Eu pensava que com 40 anos, eu estava acabado e acreditava exatamente nisso até o final de semana passado. Hoje, eu sinto que minha vida finalmente começou, que eu tive uma reforma interior e uma reabertura para a vida. Nunca me senti tão bem comigo mesmo. Nunca. Pode ser que eu me desencante de mim novamente, mas farei o máximo para que isso não ocorra. É muito melhor viver assim, em paz com quem se é. Sem se cobrar demais, aceitando as limitações e não amplificando elas. Aceitando as qualidades. Essa parte das qualidades eu ainda preciso trabalhar para ser sincero. Aliás, já estou trabalhando. Confiável, legal, comunicativo, confiante são as primeiras. E buscar melhorar a cada dia. Eu preciso refazer a lista de frases. Acho que dá para melhorar.
Vamos tentar aqui (acho as exclamações os acentos mais adequados, acho-as acentos alegres e vibrantes nesse contexto).

COMANDOS

- Eu gosto de mim!
- Eu sou feliz honestamente!
- Eu sou desenrolado, sedutor e legal com as garotas!
- Eu sou gostoso!
- Eu confio no meu taco!
- Eu vou voltar a jogar videogames com o Switch!
- Eu sou autoconfiante e confiável!
- É muito gostoso fazer sexo, dar aquela trepadinha!
- Eu sou legal e comunicativo!
- Eu vou conquistar e amar a garota da noite!
- Eu estou emagrecendo e continuarei emagrecendo!
- Eu vou gostar da viagem
- Todos os dias de todas as formas eu me torno e fico cada vez melhor!

Por enquanto está de ótimo tamanho. Repetir vinte vezes cada frase dessas toma um tempo do caramba e não é necessariamente divertido, por mais que geralmente tenha me sentido muito bem depois de repeti-las. Acho às vezes que é muita informação de uma vez só, que deveria fazer metade das frases de manhã e metade à noite. Além de ficar repetindo algumas delas quando espero por algo ou quando um sentimento negativo vem tentar se apoderar de mim. Vou parar por aqui, revisar e publicar isso.

22h38. Revisei. Achei muito redundante o texto, mas deixa ser com o coração. Foi assim que saiu de mim, assim ficará.

23h15. Senti necessidade de me dizer mais um pouco aqui porque não estou com um pingo de sono. Mamãe fez mais café para mim. Também deixei a faca e o queijo para ela, esquentei a água, coloquei o filtro na garrafa, pus a tesoura e a colher ao lado do pacote de café, ela só precisou mesmo preparar. Acho que tomei café demais, estou até um pouco trêmulo. Vou parar por hoje. Tomo o resto amanhã quando acordar. Ela calhou de me trazer um milk-shake do McDonald’s. Com essa superdose de calorias, eu não vou comer mais nada hoje. Eu quero emagrecer, oras. Deixo o resto da paçoca e o arroz para amanhã. Amanhã... vou sugerir que o meu amigo cineasta me filme preparando os remédios para a viagem, pelo menos é uma atividade diferente, uma cena diferente e que faz parte do meu cotidiano. A tremedeira está passando. Mas o enfado de café, não. O zunido que ouço desde que me entendo por gente zune alto. “Arisen My Senses”, toca. Reiniciei o computador e som pegou. Imprimi a nova lista de comandos em duas vias. Uma para substituir a antiga e outra para levar na viagem e ver se prego na frente de onde vai ficar o meu computador. Não sei... a parte do sexo, pode ser proibitiva por causa dos guris. O mais velho já sabe ler. Mas levarei nonetheless. Vou perguntar a mamãe se compro o Switch a tempo de chegar para o Natal ou não. Mas isso só amanhã de noite. De manhã, ela vai se estressar, eu conheço. Botar meu despertador para o meio-dia. Ainda estou trêmulo, me enganei. Ele pode filmar também eu enchendo os frascos de Vaporfi para a viagem. Não sei se é o café ou o Vaporfi o que me deixa trêmulo. Provavelmente uma mistura dos dois. Estou abismado com a receptividade do meu post da autossugestão, 64 visualizações. Outra razão por que não posto esse agora. Deveria ter tirado uma foto do Natal da minha família paterna. Não sei que imagem botar nesse post. Acho que nenhuma. Nem sei se divulgue esse. Acho que vou divulgar. Caramba vai ser ozzy esse traslado sem o celular para digitar alguma coisa. Mas estou decidido a não levar. Só o chip. O silêncio de uma amiga para quem mandei a última mensagem que deixei para a garota da noite me incomoda. Ela estava acompanhando o desenrolar da história e pediu que a mantivesse atualizada. É outra prova de que fiz o movimento errado. Realmente não sei como paquerar. Ozzy. Mas o que está feito não pode ser desfeito, o que não tem solução, solucionado está. Deveria ter me aconselhado com algum dos profissionais da paquera antes de mandar, mas estava tomado de tanta confiança que decidi arriscar. Errei, sim, manchei o meu nome com a garota da noite. Vamos ver o que envio para ela no Natal. Se mandar algo realmente. Amanhã tenho que falar com Maria de qualquer jeito. Prometi ligar para ela antes de viajar. O pior é que o meu celular não está se conectando ao Wi-Fi daqui de casa. Acho que vou ligar para ela, sem vídeo. Ou tento pelo Skype novamente. Pode ser que meu amigo cineasta queira filmar de novo esse momento. Amanhã também pode ser que receba a foto de Poeira. Vai ser um dia sui generis. Pode ainda haver a possibilidade de encontrar com as minhas amigas psicólogas. Podia tudo isso acontecer. Switch, Maria, Poeira, filmagens e encontro com as amigas psicólogas. Seria um dia repleto de coisas preciosas para mim. Pelo menos a ligação haverá, pois é a única coisa que depende única e exclusivamente de mim. E de Maria estar em casa. Pode ser que tenha ido visitar seu povo.

23h57. Sem sono algum. Acordei quase de duas horas hoje. Amanhã não posso me dar a esse luxo, pois filmagens dependem da luz do dia. Espero que meio dia seja um horário bom para o meu amigo cineasta. Ou torço para ouvir seu chamado pelo WhatsApp. Não posso ir me deitar mais de 1h30. Espero desistir de escrever antes. Puxa, tantas coisas boas podem acontecer amanhã, aliás, hoje, são 0h03. E daqui a dois dias estarei começando a minha peregrinação com mamãe rumo à América do Norte. Ao norte da América do Norte. Acho que finalmente me conformei com isso. Caraca, ainda tenho que repetir os comandos. Me esqueci completamente disso. Não posso fuleirar comigo. Estou indo tão bem por causa deles. Tirando o vacilo com a garota da noite. Que nem sei se foi vacilo ou não. Ainda fico na dúvida, mas duas pessoas mais experientes torceram o nariz, então foi vacilo mesmo. Vivendo e aprendendo.

0h31. Acabei de repetir as frases. Volto a reafirmar que acho que é informação demais para ser assimiladas pelo cérebro. Vou me focar em duas frases ou três frases por dia. Não mais que isso. E todo dia eu revezo. As do videogame e da viagem têm data certa para terminar. Já elimino duas. E não incluo mais nenhuma, acho que agora eu alcancei o sweet spot das frases. Não há nada por enquanto que eu queira modificar além disso. Se eu modificar tudo isso, aliás, eu serei um novo homem. O homem que eu sempre sonhei ser. E que acho que tenho o potencial latente para ser. Não sei se só as frases são suficientes para fazê-lo desabrochar dentro de mim ou se a hipnose se faz mister. Acredito que hipnose seja uma indução mais profunda e transformadora. Mas seguirei repetindo as minhas frases anyway. Já estou me repetindo demais. Vou parar por aqui. Minha amiga psicóloga mandou no anteontem, dia da festa de Natal, uma mensagem de “vamos nos ver”. Espero que role, lembrar de pedir um dinheiro à minha mãe. Tudo conspira para um dia deveras legal amanhã.

0h52. Preciso dormir, mas cadê o sono? Vou botar o despertador para as 11h00 em vez de 12h00. Nem tanto o mar, nem tanto a terra, 11h20. Acho que é um bom horário. Parece que me apeguei mesmo ao jogo do Toad estou me coçando para jogar ele. Só não farei porque aí é que vou dormir tarde mesmo. Teve um gráfico lindo no jogo do Toad que me deixou mesmerizado. Gráficos de videogame me despertam um encanto inexplicável. Acho que por isso não gostei muito do Persona 4, os gráficos são de PS2. Ou vai ver que o jogo demora para engrenar mesmo. Ainda darei uma chance a ele. Mal posso esperar para ver o Zelda e o Mario. Queria comprar o game amanhã. A não ser que mamãe queira comprar em dinheiro. Espero que ela me libere comprar amanhã. Acho que vou vender duas estátuas. Para ajudar também no pagamento do frete e nas taxas alfandegárias do Hulk. Estou quase decidido a fazer isso. Vender três? Aí já é demais. Eu acho. Deixa eu chegar nos EUA que eu falo o que vou fazer.

1h39. Disse que não iria dormir depois da 1h30. Olha aí, já descumpri. Ozzy. Vou pegar mais um copo d’água, fumar o último cigarro da noite e apagar a luz da sala.


1h49. Fiz o que mencionei e tomei os meus remédios, havia esquecido completamente. Estou com medo de namorar. Mas tenho que botar na minha cabeça avessa a mudanças que um relacionamento é algo que começa aos poucos. Não se vira namorado da noite para o dia. Não é mais como antigamente. As garotas (e os rapazes) querem fazer um test-drive antes de se envolverem afetivamente. É tudo meio ao contrário agora. Começa com sexo e termina com namoro. Se der sorte de se chegar até o namoro. Só falta a garota da noite ter ficado novamente com o meu amigo cervejeiro e contado das minhas investidas para ele. Ele deve então estar puto comigo e me achando um ridículo fura-olho. É, isso seria péssimo. Possivelmente perderia o amigo. Mas o que eu ofereço, ele, pelo que entendo, não é capaz de oferecer no momento. Não para a garota da noite especificamente. Ele mencionou outra garota que havia mexido com ele. Não a conheço. Novamente o silêncio da minha amiga speaks volumes to me. Que saco. Por que eu sou tão diferente? Por que eu não sou um escroto raparigueiro como é a norma hoje em dia? Por que sou dado ao romantismo? Porque foi isso que funcionou e me fez feliz na minha vida afetiva. O tempo passa. E eu vou ficando para trás. Por que sou tão seletivo esteticamente? Que desgraça. Começo a achar que as frases não servem para nada. Vai ver que é fome. Não comerei, entretanto. 2h06. Dormirei pouco esta madrugada. O mundo gira triste para mim nesse momento. Tudo poderia ser tão mais simples. Mas mulheres são seres complexos. Ela viu a mensagem toda! A garota da noite se deu a esse trabalho. Obviamente ficarei sem resposta. Não há resposta que não um direto de volta, me mandando parar de assediá-la. Ou pode ser resposta nenhuma, que eu acho muito melhor. Pois deixa a coisa como está, suspensa no ar. Minha mãe acabou de entrar no quarto me mandando dormir. Mas não estou com sono. Pelo padrão dela, não retornará outra vez para averiguar se de fato me retirei. Não sei se mudará o padrão hoje. E pouco se me dá. Está uma porcaria o que estou escrevendo agora. Mandei uma mensagem para a minha amiga conselheira, a do silêncio, espero que ela responda quando vir. Quero saber o tamanho do estrago da mensagem que enviei. Eu não posso continuar fazendo posts tão imensos... 14 páginas novamente, assim não dá. Alienarei todos os leitores. Espero que meu amigo cineasta traga o pen-drive para salvar os arquivos. Tenho que lembrar de dizer-lhe que eu não vou querer assistir o filme na companhia de seu ninguém. Vou ficando por aqui. Vou só revisar esse último trecho e postar.

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