sábado, 3 de março de 2012

Cair da tarde

Fluxo podia ser um outro nome para o que eu quero escrever, pois é como eu escrevo.

17h02. Tarde linda, dessas que fazem valer a pena a condição de ser humano capaz de apreciar o dourado do sol nas árvores, a calma nas ruas, a brisa leve, de emprestar ao todo objetivo a beleza subjetiva de um olhar. Alumbramento. Uma trégua na dor de existir. Se bem que não ando angustiado como antes. Me sinto bem. Algo mudou, não sei como nem por quê. E não importa. Não importa muito, pois em verdade gostaria de saber os caminhos para voltar a me sentir bem, caso meu astral piore novamente. Mas não quero falar nisso. Vou fumar um cigarro e olhar a tarde cair.

17h20. Voltei e afirmo que é uma das tardes mais lindas desse verão. Como a natureza é bonita, rapaz. Como às vezes ela se exibe singela e majestosa para quem se dispõe a ver. Raramente ela é horrenda, mas quando é, quando expele anomalias, pústulas e morte, é terrível. Há certos animais repulsivos, mas não os vejo como coisas horrendas, apenas seres com os quais tenho pouca intimidade ou que carregam um peso negativo no ideário popular. Sim, tenho medo de baratas. E, sinceramente, não vejo base racional para isso. Por sinal, há uma enorme que ronda meu banheiro e meu quarto pelas altas da madrugada. Não tenho coragem de matá-la. Não tenho coragem de matar. Ponto. A única pessoa que mataria nunca consegui, tanto é que continuo a apreciar belas tardes e temer baratas. 17h29. Vou ouvir o set list de ontem. Eita, não salvei... 17h33. Fiz outro. Música. Outro presente da natureza. Na música, mais que em qualquer outra coisa, acredito que a emoção despertada é subjetiva. Ninguém ouve a mesma música da mesma forma. A música faz emergir emoções, imagens e memórias que só aquela pessoa viveu, vive, revive ou imagina e ninguém mais. Ouço agora uma música crepuscular que combina exatamente com este ponto moribundo da tarde, The Loudest Sound. Só que ela me lembra o pôr-do-sol à beira de uma praia deserta e sem verão. Com uma pessoa muito amada.

Eita, parece que as emoções despertadas pela música não são tão diferentes quanto supus. Olha o que eu achei.



Que irônico. É engraçado me descobrir tão errado de algo que tinha como tão certo. Será que há mais coisas assim, que eu desconheça estar totalmente errado? Deve haver. Será que as descobrirei todas? Isso é estranhíssimo.


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